quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Propósito da «Ratoeira» da Dívida - 1

Ou as areias (movediças e pantanosas) da Dívida
Um primeiro apontamento
Sempre que me falam da Dívida, como eu não sou contabilista (era para ser mas não fui...) nem economista (não deu para isso), de vez em quando tenho que fazer ums «contitas» para tentar perceber o que se passa. Hábitos que ficaram de quando tinha que gerir uma empresa. Ou melhor, uma muito pequenina sucursal de uma (MUITO) grande empresa transnacional.
Por outro lado, e como alguns dos meus amigos de vez em quando me vêem com o argumento de que «o Estado é como uma família, não pode viver acima das suas possibilidades», vou tentar fazer aqui umas contas «como se o Estado fosse uma família», embora saiba que este tipo de argumentos enferma do erro básico das «falácias de composição» (o que é válido para qualquer uma das partes não é válido para a totalidade agregada dessas partes).
Tanto quanto eu saiba, PIB (o Produto Interno Bruto - agora parece mais adequado falar de Rendimento Interno Bruto...) não é a mesma coisa que «Riqueza Nacional».
Mas uma coisa parece certa: se o PIB crescer 2%, isso quer dizer que a Riqueza Nacional também pode ter crescido 2%. Por outro lado, se o PIB não crescer tanto quanto se desejaria, e o pessoal tiver que amortizar ou pagar uma dívida, então uma possível solução é a «venda de património ou riqueza nacional». É que sem crescimento muito (mas mesmo muito) significativo não há maneira de «pagar qualquer dívida».
Vamos então imaginar – é só um exercício mental – que a Dívida é legítima. Que não houve «aldrabices» nem «conluios» ou «golpadas» mais ou menos especulativas. Para determinar tudo isso era preciso uma Auditoria à Dívida... Mas para isso bem podemos esperar sentados. O governo não colabora, facto esse que só alimenta suspeitas. «Quem não deve não teme»...
Mas, seja como for, se a Dívida for mesmo legítima, até por uma questão de honestidade e boa reputação (um «capital simbólico» precioso...) há que pagar essa dívida.
Então é assim. E vamos partir de um cenário não completamente pessimista em que a economia é imaginada «estar a crescer» !!! 
Era mais ou menos assim que se explicava aos mestrandos em Estudos Africanos o drama da chamada «Ratoeira da Dívida». Coisa velha já de algumas décadas... Havia ainda a explicação sobre o crescimento populacional e o efeito das oscilações do «valor do dinheiro»...

O exemplo numérico acima servirá apenas e tão só para ilustrar uma verdade aritmética simples: se a taxa de juros da dívida for (ainda que ligeiramente) superior à taxa de crescimento da economia, não há como reduzir a dimensão do montante da dívida, a menos que se vá «comendo» (saldando, vendendo...) o património ou «riqueza nacional acumulada».
O sr. Ministro da Economia anunciou, com pompa e circunstância quanto baste, que até 2020 quer pôr a economia nacional a crescer a 3%. Até lá vamos ver. 
Mas se os juros da dívida forem na ordem dos 3,1% nunca mais reduzimos o seu montante. A menos, repito, que se venda património. Com o risco de se estar a vender património que por sua vez até poderá ajudar o crescimento e dar «lucro» à colectividade social que é o Estado (ou seja à «Nação políticamente organizada»).
Entretanto nem a Economia está a crescer, bem antes pelo contrário, nem os juros são assim tão baixos. Deve ser por isto que anda tanta gente a dizer que «é impossível pagar a Dívida». Não vejo - e confesso a minha incapacidade para ver - outra razão...
Serão todos tontos - esses que dizem que é impossível pagar esta dívida - e só os senhores ministros das finanças e os muitos técnicos das troikas é que sabem o que estão a fazer?...
Se calhar... Eu sei lá... 8-(
Ah, falta lembrar (ou sublinhar) que a Inflação (essa malvada...) é um excelente instrumento de desvalorização das dívidas. 
Deve ser mesmo um dos pesadelos da sra. Angela Merkel

Notas finais: 
1. O exercício lá de cima era mesmo só a título ilustrativo!... Em 26 de Abril de 2013 os juros para a dívida a cinco anos eram de 4,565%. No caso da divida a dez anos, os juros eram de 5,793%.
2. O exercício acima foi feito à mão, com uma calculadora  e sem Excel  (não fosse o diabo tecê-las...), pelo que se agradecem quaisquer chamadas de atenção para eventuais erros.
 

3 comentários:

  1. Acho que falta ter em conta o defice/superavit das contas publicas...

    https://www.google.pt/publicdata/explore?ds=ds22a34krhq5p_&met_y=gd_pc_gdp&idim=country:pt&dl=pt-PT&hl=pt-PT&q=divida%20publica#!ctype=l&strail=false&bcs=d&nselm=h&met_y=edp_b9_pc_gdp&scale_y=lin&ind_y=false&rdim=country_group&idim=country:pt&ifdim=country_group&hl=pt_PT&dl=pt_PT&ind=false

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  2. Não sei se interpreto bem esta observação, mas...
    O exercício é propositadamente rudimentar e olhando para o país COMO UM TODO (ainda que representado pelo Estado) e perante um conjunto «anónimo» e «colectivo» de credores supostamente externos.
    A esse respeito, importa ter consciência de que alguns dos detentores da nossa dívida pública (portanto a ser paga através de «impostos» - já que não podemos emitir moeda...) são entidades (fundos de investimento) nacionais.
    Por outro lado, considerando o país COMO UM TODO, os "superavits" que o Estado consiga realizar nas suas contas internas com os seus cidadãos e empresas fiscalmente residentes em Portugal (logo,virando-se para o interior...), esses "superavits" estão incluídos nas contas do PIB (são transferências internas) que depois podem ser utilizados ou não para «amortizar» a dívida soberana externa ou apenas pagar os juros respectivos.

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  3. Um esclarecimento a colocar à porta dos cafés,escolas, igrejas, fábricas (as poucas que ainda existem) e imprimir panfletos para lançar de avioneta de modo a que as pessoas se interroguem. Falar-lhes do PIB ou do POB, não adianta.Temos que lhes mostrar de forma simples e clara que não é possível, que nos estão a arrastar cada vez mais para a miséria. Não termos receio de usar uma linguagem que todos entendam e não entrarmos só em discussões académicas que atingem uma roda limitada dos que já sabem no que isto vai dar.

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