terça-feira, 25 de junho de 2013

Coisas que vou rabiscando - 1

Da Relevância Crucial da Teoria (laboral) do Valor
No seu objectivo de explicar e justificar determinados fenómenos da economia em que vivemos e cujas consequências afectam de modo desigual a generalidade dos membros da sociedade humana, os economistas convencionais ou da chamada linha principal, há muito tempo já que decretaram – segundo julgam a título definitivo – que estavam profundamente erradas as ideias de Karl Marx relativamente ao funcionamento da economia capitalista. Mas nem sempre foi assim. No seu, tempo, mesmo sendo um autor já então perseguido ou ostracizado, havia pelo menos a ideia de que a análise de Marx sobre o sistema capitalista reflectia de facto – explicando-a com rigor – a realidade objectiva e observada dos factos económicos. Por exemplo, a própria Igreja Católica chamava a atenção para aquilo a que então se chamou de “A Questão Social”, justamente com base na observação dos fenómenos sociais explicados pela análise produzida por Karl Marx relativamente ao funcionamento da economia capitalista. Ainda por exemplo, Karl Rodbertus, um economista conservador e contemporâneo de Karl Marx, acusava mesmo este último de o ter plagiado, muito em particular no que diz respeito à sua formulação da teoria laboral do valor. Ou seja, no tempo de Karl Marx não era propriamente o fundamento da sua análise sobre o modo de funcionamento do sistema capitalista que era posto em causa. Aquilo que se punha em causa – nos círculos académicos, sociais e políticos dos dirigentes do sistema - eram as consequências que daí podiam naturalmente advir. Designadamente a tentativa “revolucionária” de acelerar o curso da História e “forçar a passagem” para um outro sistema de organização social e económica.
Poderá mesmo considerar-se (sem forçar muito a nota...) que a emergência da abordagem marginalista, por via dos trabalhos de autores como William Jevons (1862), Carl Menger (1871) ou Léon Walras (1874), não podendo propriamente ser considerada como uma resposta ao paradigma analítico desenvolvido por Karl Marx1, pode antes ser considerada como uma especificidade analítica do tipo de comportamento decisório por parte dos agentes económicos, quer na produção, quer no consumo. Por outras palavras, não se trata de discutir se o paradigma analítico marxista está errado e o paradigma analítico marginalista está certo, ou vice versa. Enquanto que o paradigma analítico marxista explica o modo de produção e distribuição da riqueza mercantil produzida, o paradigma analítico marginalista explica as razões das tomadas de decisão por parte dos agentes económicos, relativamente à dimensão quantitativa (ou situação “óptima”), quer do lado dos factores de produção quer do lado do consumo. São duas facetas distintas e complementares que, no entanto, aparecem quase sempre apresentadas como se fossem “paradigmas alternativos”.
Voltando entretanto à questão das possíveis consequências de uma compreensão plena e eficaz dos mecanismos e da lógica de funcionamento do sistema capitalista (conhecimento é poder...), tornou-se urgente refutar as bases teóricas das análises expostas em “Das Kapital “ de modo a que as mesmas pudessem ser “varridas para um qualquer caixote do lixo da história das ideias”.
Foi assim que a teoria marginalista veio devidamente aproveitada para, através de uma exclusiva atenção ao epifenómeno do “preço”, se esconder por debaixo do tapete, o interesse da categoria analítica “valor”.

1Em rigor dir-se-ia antes que a emergência das ideias do marginalismo eram um desenvolvimento da teoria da renda de David Ricardo (“é o valor produzido nas terras marginais aquilo que determina a renda das terras mais férteis”...), implicando no entanto o abandono da teoria laboral do valor, desenvolvida pelos clássicos e reelaborada, de forma crítica, por Karl Marx. Em todo o caso, o primeiro volume de “Das Kapital” até só foi publicado em 1867, ou seja 5 anos depois da publicação do artigo de William Jevons General Mathematical Theory of Political Economy .