Uma longa reflexão a pensar em algumas pessoas - incluindo amigos brasileiros - que se afirmam como «marxistas»...
Durante
a campanha eleitoral no Brasil muito se falou da corrupção
galopante no Brasil, em particular entre os seus opositores, a
qual, à imagem da mitológica Hidra de Lerna parece ser
impossível de irradicar (corta-se uma cabeça e logo aparecem
outras duas...).
Dizem-nos
os clássicos da Economia Política (se não dizem, podiam dizer ou
então digo eu...) que um dos problemas fundamentais da Economia é o
problema da distribuição da riqueza produzida. Em particular do
excedente produzido.
De
acordo com as «leis da Natureza» (do sistema capitalista) tal como
postuladas pelos seus mais altissonantes apologistas - Milton
Friedman et alia - o mundo é como é e não há nada a fazer. A
riqueza tenderá naturalmente a fluir para os mais ricos e os mais
pobres que se remedeiem como puderem. O
Estado não tem nada que se envolver em questões de RE-DISTRIBUIÇÃO
da dita cuja riqueza produzida.
Só
que as sociedades humanas são constituídas por «agentes
conscientes» e dotados de algum sentido ético (tem piada que já o
sr. Adam Smith escrevera - antes do «A Riqueza das Nações», um
livro intitulado «Teoria dos Sentimentos Morais»... Vão lá falar
disso aos «friedmanitas» de serviço...).
E
sendo dotados de sentido ético, esses agentes sociais, às vezes,
vão procurando organizar-se para impor alterações nas tais «leis
da Natureza» (do sistema capitalista...).
Olhando
de longe, o sr. Aécio Neves apresentava-se como defensor do «Estado
minimalista», tendencialmente à maneira de Milton Friedman.
Ou
seja, não há - ou não deve haver - lugar a esforços por parte do
Estado para redistribuir a riqueza que sai sendo produzida.
Por
seu lado Dilma Rousseff apresentava-se como defensora e/ou promotora
da ideia da necessidade (ou mesmo do imperativo) de o Estado
contrariar as tais «leis da Natureza» (do sistema capitalista)
fazendo uma significativa redistribuição da riqueza
produzida.
E
é aqui que entra uma das facetas (ou tipos) de corrupção.
É
que «corrupção» tem sido um fenómeno histórico universal em
todas as sociedades de classes. Os brasileiros não têm qualquer
monopólio disso.
E
há corrupção na troca de favores, mas há também o fenómeno de
«quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou
não sabe da arte»...
Por
outras palavras, é perfeitamente normal que os agentes políticos
que fazem a redistribuição da riqueza, aproveitem para - já agora,
com a mão na «massa» - se servirem também em benefício próprio.
Não
se trata de desculpar essa forma de corrupção!!!
Trata-se
de não confundir «coisas», «factos», «variáveis» e «factores
intervenientes»...
Trata-se
também - e sobretudo - de ter das coisas uma visão de longo prazo e
apoiar quem quer redistribuir a riqueza e, ao mesmo tempo,
intensificar a luta contra a corrupção...
É
nestas ocasiões que é crucial ter uma compreensão teórica
profunda dos fenómenos sociais... Não é possível uma práctica correcta -
ou adequada - sem uma boa teoria, compreensiva e abrangente.
E foi por causa disto tudo - destas reflexões - que tive muita
dificuldade em perceber por que razão algumas pessoas que se reclamam do
marxismo afirmaram alto e bom som que não valia pena votar em Dilma
Rousseff pois que - no fim de contas - a mesma iria fazer sensivelmente o
mesmo que Aécio Neves.