A propósito da minha recorrente insistência sobre o facto de não haver quaisquer exemplos de sucesso destas medidas de austeridade com que nos estão a
fustigar (para resolver o «gravíssimo» problema da dívida pública…) trago aqui
à colação um breve trecho de um livro de R.T. Naylor: «Dinheiro Quente e a
Política da Dívida», publicado em 1987 (e traduzido para Português em 1989):
«Quando o presidente De la Madrid desacreditou
o «populismo financeiro» do seu antecessor, repudiou igualmente os esforços de
Lopez Portillo para atirar as culpas da crise para cima do sistema financeiro
internacional. De la Madrid insistiu – numa linguagem que poderia ter vindo
directamente de qualquer relatório do FMI sobre o pais – que as causas do
problema eram um governo dissoluto e um comportamento consumista, contra os
quais o óbvio remédio era uma severa austeridade. À superfície esse remédio
pareceu dar resultados. Em 1981 tinha havido um défice de 3.500 milhões de
dólares na balança comercial; nos finais de 1982, as importações tinham sido
tão reduzidas que havia um superavit de 5.000 milhões nas trocas comerciais.
Durante 1983, o superavit ultrapassou mesmo o objectivo estipulado pelo FMI e,
em 1954, o México foi apontado como um modelo de respeitabilidade fiscal e
financeira.
Os oráculos do «dinheiro bom» exultaram,
cheios de entusiasmo. «O remédio prescrito foi tão forte como eficaz» proclamou
The
Economist. Foi dado grande relevo na
imprensa ao reembolso por parte do México, no Verão de 1983, das suas dívidas
ao Banco Internacional de Compensações e ao sistema norte-americano de Reserva
Federal (dos rendimentos de novos empréstimos de bancos comerciais!). Um
vice-presidente do Banco Mundial, Ernest Stern, contribuiu para a escalada de
disparates ao declarar que «a forma como o povo e o governo do México tinham
conseguido gerir a crise havia enchido o mundo de admiração». No entanto o
prémio vai para o economista mexicano que se atreveu a dizer: «Financeiramente
as coisas vão muito bem, mas economicamente as coisas vão muito mal!». Isso
deve ter servido de consolo a população mexicana: desde 1982 tinha sofrido uma
descida nos salários reais de 25% (em fins de 1984, 49%) e uma taxa de
desemprego e subemprego na ordem dos 50%»
É por estas e por outras (situações exemplares e até
mais antigas) que a mim me dá para dizer que «já vivii este filme»… E o final
não tem sido nada feliz.