segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A propósito da re-eleição de Dilma Rousseff...

Uma longa reflexão a pensar em algumas pessoas - incluindo amigos brasileiros - que se afirmam como «marxistas»...


Durante a campanha eleitoral no Brasil muito se falou da corrupção galopante no Brasil, em particular entre os seus opositores, a qual, à imagem da mitológica Hidra de Lerna parece ser impossível de irradicar (corta-se uma cabeça e logo aparecem outras duas...).

Dizem-nos os clássicos da Economia Política (se não dizem, podiam dizer ou então digo eu...) que um dos problemas fundamentais da Economia é o problema da distribuição da riqueza produzida. Em particular do excedente produzido.

De acordo com as «leis da Natureza» (do sistema capitalista) tal como postuladas pelos seus mais altissonantes apologistas - Milton Friedman et alia - o mundo é como é e não há nada a fazer. A riqueza tenderá naturalmente a fluir para os mais ricos e os mais pobres que se remedeiem como puderem. O Estado não tem nada que se envolver em questões de RE-DISTRIBUIÇÃO da dita cuja riqueza produzida.

Só que as sociedades humanas são constituídas por «agentes conscientes» e dotados de algum sentido ético (tem piada que já o sr. Adam Smith escrevera - antes do «A Riqueza das Nações», um livro intitulado «Teoria dos Sentimentos Morais»... Vão lá falar disso aos «friedmanitas» de serviço...).

E sendo dotados de sentido ético, esses agentes sociais, às vezes, vão procurando organizar-se para impor alterações nas tais «leis da Natureza» (do sistema capitalista...).

Olhando de longe, o sr. Aécio Neves apresentava-se como defensor do «Estado minimalista», tendencialmente à maneira de Milton Friedman.

Ou seja, não há - ou não deve haver - lugar a esforços por parte do Estado para redistribuir a riqueza que sai sendo produzida.

Por seu lado Dilma Rousseff apresentava-se como defensora e/ou promotora da ideia da necessidade (ou mesmo do imperativo) de o Estado contrariar as tais «leis da Natureza» (do sistema capitalista) fazendo uma significativa redistribuição da riqueza produzida.

E é aqui que entra uma das facetas (ou tipos) de corrupção.

É que «corrupção» tem sido um fenómeno histórico universal em todas as sociedades de classes. Os brasileiros não têm qualquer monopólio disso.

E há corrupção na troca de favores, mas há também o fenómeno de «quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não sabe da arte»...

Por outras palavras, é perfeitamente normal que os agentes políticos que fazem a redistribuição da riqueza, aproveitem para - já agora, com a mão na «massa» - se servirem também em benefício próprio.

Não se trata de desculpar essa forma de corrupção!!!

Trata-se de não confundir «coisas», «factos», «variáveis» e «factores intervenientes»...

Trata-se também - e sobretudo - de ter das coisas uma visão de longo prazo e apoiar quem quer redistribuir a riqueza e, ao mesmo tempo, intensificar a luta contra a corrupção...

É nestas ocasiões que é crucial ter uma compreensão teórica profunda dos fenómenos sociais... Não é possível uma práctica correcta - ou adequada - sem uma boa teoria, compreensiva e abrangente. 
E foi por causa disto tudo - destas reflexões - que tive muita dificuldade em perceber por que razão algumas pessoas que se reclamam do marxismo afirmaram alto e bom som que não valia pena votar em Dilma Rousseff pois que - no fim de contas - a mesma iria fazer sensivelmente o mesmo que Aécio Neves.