quarta-feira, 20 de junho de 2012

Para uma espécie de crónica da «espuma dos dias»


A PROPÓSITO DE DIVERSOS MANIFESTOS, VÁRIOS E DISPERSOS...
Confesso que cada vez tenho menos pachorra para ver televisão, ouvir rádio e ler jornais portugueses. Mesmo assim sempre vou vendo ou ouvindo um ou outro dos programas ditos de «debate político» e, por via das «redes sociais» e da leitura de órgãos de imprensa internacional disponíveis na «Teia», sempre me vou mantendo informado QB, sobre o que se passa neste mundo cada vez mais baralhado. 
Seja como for, mesmo com essa menor atenção à imprensa local, vou ficando com a ingrata sensação de uma espécie de «conspiração do silêncio» relativamente à intervenção política de um dos mais importantes agentes políticos nacionais. Neste caso não será o «silêncio dos inocentes», bem antes pelo contrário. Como será fácil de adivinhar estou aqui a referir-me à quase não existência mediática do PCP.
Mesmo os comentadores que vão tendo tempo de antena e que se reclamam da «esquerda» ou que se afirmam «progressistas» e «abertos de espírito», mesmo esses vão fazendo os seus comentários e debates sobre a situação política em Portugal (e a oposição e protesto que se vai fazendo ouvir) como se o PCP não existisse. Devo esclarecer  que não sendo militante, sou simpatizante, «companheiro de combate» ou «amigo de longa data». De muito longa data… Simpatia essa que já me custou alguns e muito significativos «amargos de boca - mas isso já são outros contos.
Vem tudo isto a propósito de diversos manifestos e convocações que têm vindo a lume nos últimos tempos (muito naturalmente em resultado do agravar da situação social e económica que vai afectando camadas cada vez mais alargadas da população), todos eles – esses manifestos e convocatórias - subscritos por diversas e legitimamente ilustres personalidades da vida pública portuguesa, pessoas com responsabilidades cívicas e de credibilidade  firmada e apelando à «unidade da esquerda» ou ao «espírito cívico de todos os patriotas» ou apelando também ao «sentido de responsabilidade» das forças representativas da democracia e do progresso (para o caso são tudo expressões de minha lavra mas que julgo reflectirem o sentido geral daqueles apelos).  
Subjacente  a quase todos esses apelos parece estar também a ideia de que «o PCP faz falta»…  Até na medida que se reconhece a este partido um papel crucial na movimentação e mobilização das pessoas. E no entanto, em paralelo com este sentimento de que «o PCP faz falta», parece também pairar no ar – entre as pessoas que fazem os referidos apelos - a ideia de que o PCP sofreria de  uma espécie de «esquizofrenia sectária»  
Não sei porquê (mesmo socorrendo-me de alguns conhecimentos de sociologia), fico antes com a ideia de que haverá aqui algum desconhecimento das regras elementares de uma espécie de protocolo institucional não escrito (muitas vezes as regras mais poderosas são aquelas que estão apenas implícitas… Alguns antropólogos falam aí de «silêncios sociais»…. Em linguagem chã dir-se-ia «coisas de que não se fala à mesa»)…
 Acontece que, para além de ser um partido político (com uma história relevante na resistência ao fascismo e na luta pela democracia) o PCP é também uma instituição. E uma das regras desse protocolo institucional a que os militantes e dirigentes do PCP julgo serem particularmente sensíveis, é justamente a do espírito colectivo, com todas as consequências que daí derivam.
Na empresa multinacional onde trabalhei durante quase 30 anos também era assim: em linguagem chã «vestir a camisola». Houve mesmo um «best-seller» que comparava a IBM com o PC da URSS...
Tudo isto para dizer que de acordo com o tal «protocolo institucional», se as muitas personalidades independentes querem a participação do PCP numa espécie de «Frente Progressista, Republicana e Socialista»,  então a melhor estratégia – penso eu, numa de sociólogo – será mesmo a abordagem directa e formal QB com os órgãos directivos do PCP… Não faz muito sentido andar a tentar recrutar apoios em personalidades individuais sem antes ter assegurado a participação de uma força com o peso do PCP e que, ainda por cima, se presume «fazer falta à oposição» a esta autêntica contra-revolução neoliberal que, com «papas e bolos» nos vai prometendo uma espécie de «fascismo sem dor»….
Constitui-se uma espécie de comissão adhoc de democratas e socialistas (gente progressista com créditos firmados…) e conversam com os dirigentes institucionais do Partido. No actual contexto de «necessidade de Resistência» , não seria muito mais eficaz (e até mais simples) do que uma estratégia muito em estilo  «todos ao molho e fé em Deus»  ?
Nisso, embora continue a não me ver como uma «personalidade com créditos firmados» sou pessoa para alinhar.

sábado, 16 de junho de 2012

Ainda (teimosia ou persistência minha...) a taxa de lucro

Considerando que o lucro é o grande incentivo do investimento (e da criação de emprego, dizem eles...) esta coisa do comportamento da taxa de lucro deveria ser mais discutida pelos meios de comunicação.
Mas infelizmente parece que é tema demasiado árido para ser debatido nos grandes meios de comunicação... O futebol ou os dislates de alguns políticos atraem muito mais atenção. Hoje ocorreu-me «discorrer» um pouco sobre o tema.
Aqui vai.

A expressão «queda tendencial da taxa de lucro» (ou a sua equivalente «tendência decrescente da taxa de lucro») contem as sementes de um grande (enorme...) mal entendido histórico. Estou a referir-me ao facto de que uma tal expressão parece sugerir que a taxa de lucro é algo que tenderá sempre a cair, descer ou diminuir. Um exemplo desse mal entendido será o caso do chamado «Teorema de Okishio».
Em termos muito simplistas, este teorema demonstra que – ao contrário do que era suposto ter afirnado Karl Marx – sempre que haja a introdução de uma nova técnica de produção, a consequência para o sistema será antes uma subida tendencial da taxa de lucro.
Ou seja, enquanto que Marx teria afirmado que, com o progresso tecnológico, havia no sistema uma tendência para a queda da taxa de lucro, Okishio viria a demonstrar em 1961 que (antes pelo contrário) o que haveria no sistema será uma tendência para a subida da taxa de lucro. Foram muitos os marxistas que pura e simplesmente abandonaram a questão e passaram a dizer que afinal a queda tendencial da taxa de lucro seria apenas uma hipótese potencial, lembrando as várias contra tendências já assinaladas por Marx.
A ideia de pensar dialécticamente e de abordar o problema a partir da totalidade do sistema parece não ter ocorrido a esses marxistas ou aos seus contraditores.
Neste contexto, pensar dialécticamente quer dizer «considerar que um fenómeno emergente – para o caso, a taxa de lucro – pode comportar-se de determinada maneira numa fase da sua evolução e que pode depois numa outra fase dessa mesma evolução comportar-se de modo distinto e oposto».
Por outras palavras, o que é verdade hoje pode não ser verdade amanhã...
Neste contexto, em vez de «lei da queda tendencial da taxa de lucro» (ou do seu oposto) seria talvez mais adequado falar antes de «lei da oscilação recorrente da taxa de lucro». Ou seja, numas fases da evolução do sistema a taxa de lucro tem tendência para subir, noutras fases (e em resultado da lógica do sistema) a taxa de lucro tem antes tendência para descer.
É com isso que me dá agora para andar mais entretido...