Paradoxos das democracias
(quer as burguesas, quer as populares).
É sabido que o idioma (a
língua falada e escrita) é um dos principais «cimentos» da
identidade nacional. Há outros, mas isso não vem agora ao caso.
«In illo tempore», os
comunistas soviéticos destacavam com legítimo orgulho o facto de
terem tido uma política cultural de preservação de idiomas que se
encontravam em vias de extinção no espaço geográfico do antigo
Imério Czarista.
Já em pleno século XX,
na França democrática das primeiras décadas, uma criança da
Bretanha (por exemplo), que fosse apanhada na escola a falar em
bretão, era «corrigida» à palmatoada. No caso das regiões do
Sul, fala-se mesmo em «La Vergonha» quando se fala da repressão
dos idiomas locais e imposição do Francês oficial. Pelos vistos os governos franceses foram muito
mais eficazes do que a correspondente repressão por parte dos
dirigentes de Madrid (que culminaram com a ditadura fascista de
Franco).
Será por isso que o
Euskera é muito mais falado em Espanha do que no «”Pays Basque”
Français», onde quase não se encontram pessoas que falem Euskera,
embora ostentem a mesma bandeira «nacional».
Com a Catalunha do Norte
(o Roussillhão...) sucede o mesmo: quase (!...) não se encontram
pessoas que falem catalão. Só Francês. Com a ditadura franquista,
a repressão linguística era total, na Catalunha do Sul (a Catalunya
«Peninsular»). Foi o advento da democracia (a burguesa, aquela que
era «autorizada» pelos poderes «Ocidentais») tornou-se viável a
recuperação do Catalão, do Euskera e do Galego. As consequências
identitárias (depois de estarem como que a fermentar) estão a vir ao de cima.
No caso do Euskera, por via do ensino generalizado nas escola, tem
estado a aumentar a proporção (ainda minoritária) dos que falam
correntemente Euskera. Dadas as características do Euskera, não há hipóteses de «sintese» (ou
simbiose...). No caso do Galego
há uma espécie de nacionalismo mitigado («soft») na medida em que o idioma
Galego (a normativa adoptada) faz com que o pessoal de Madrid julge
que na TV Galicia se fala «un Português precioso» (foi a expressão que ouvi...) e o pessoal de
Lisboa pense que falam um Castelhano muito fácil de entender.
Eu diria aí que o Galego é o verdadeiro «Portunhol»!...
No caso da Catalunya a
«coisa fia mais fino» pela simples (…) razão de que o Catalão é
um língua suficientemente refinada e evoluída para se reclamar de
«desenvolvida e civilizada» (o que quer que isso queira
significar). Mas acontece que, quer no País Basco, quer na
Catalunha, por causa da sua inserção no Estado Espanhol, ao longo
de muitas, muitas décadas, houve uma imigração de milhões de
trabalhadores vindos de outras regiões de Espanha.
E assim chegámos (ou
melhor chegaram eles...) à situação em que graças à abertura da
democracia burguesa (a tal consentida pelos poderes «Ocidentais»...)
a Generalitat pôde impôr «à força» o ensino do Catalão em
todas as escolas, sem no entanto poder fechar as «fronteiras» que
impedissem a «invasão» de castelhanos, andaluzes, leoneses,
aragoneses, asturianos ou galegos. Os quais (na sua maioria) não são
os «burgueses ricos»que se possa imaginar e também têm direito a
voto.