Eu
sei – ou imagino – que nesta fase da evolução das sociedades
capitalistas deve ser dada primazia à intervenção directa. «Agitar», «ir a manifestações», «mobilizar e esclarecer»... Mas
cada coisa tem o seu tempo e o seu lugar e, em todo o caso, um
bocadinho de teoria nunca fez mal a ninguém.
Já
tem sido assinalado repetidas vezes que estamos, desde há uns anos a
esta parte, a viver em plena «crise de sobreprodução». Se me é
permitido algum sarcasmo, mas considerando que estas coisas da
economia devem sempre ser estudadas a partir da totalidade sistemica
(o capitalismo como um todo à escala planetária) poderíamos
também chamar a atenção para o facto que, de um ponto de vista das
funções sistémicas dos diversos tipos de actores económicos, ao
longo dos últimos anos o sistema produziu também um excesso de
trabalhadores.
Será
uma perspectiva «invertida» (o outro lado da moeda) do nível de
desemprego a que se assiste em todo o mundo: «há trabalhadores a
mais»... (Mas também
«consumidores a menos»)
No
passado histórico – de há uns séculos a esta parte – as saídas
para as crises de sobreprodução têm sido sistematicamente as
guerras e/ou a expansão geográfia e/ou demográfica (a
dimensão dos mercados!...). Estas saídas têm estado sempre
entreligadas. Mas (repito...) de um ponto de vista sistémico, e
considerando as funções que cada parte componente desempenha no
funcionamento do sistema como um todo, aquilo que todas estas saídas
têm em comum, é a destruição de valor excedente entretanto
produzido.
E
digo «valor excedente» referindo-me a todo o valor «acumulado» e
não absorvido pelo sistema no seu funcionamento regular ou normal,
ou ainda segundo a sua própria lógica de incentivo à acumulação,
mais do que ao consumo1.
Essa
destruição de valor excedente assume (e tem assumido) várias
formas, desde a destruição de «bens de produção» até à
destruição de «bens de consumo». Exemplos concretos dessa
necessidade de destruição de «valor excedente» (para resolver
qualquer crise de sobreproduçao, tivemos a queima de sacos de café
no Brasil dos anos Trinta do século passado, até às guerras de
destruição de maquinaria e estruturas físicas acumuladas e, de
certa maneira, passando também pelos «saldos» e «promoções»
por esse mundo fora. De um ponto de vista do sistema orgânico que é
a sociedade capitalista, tudo isso funciona como uma «purga» que se
tornou necessária para «libertar» o sistema de tudo aquilo que é
suposto «estar a mais» e «pôr a funcionar de novo» os diversos
circuitos do sistema.
Entretanto,
no caso da destruição de «máquinas» e do ponto de vista de cada
capitalista, o que é mesmo bom é destruir as «máquinas» dos
outros. É também por isso que temos tido a pressão capitalista
para as guerras de «conquista», mas sobretudo de «destruição»,
por parte dos «capitalistas nacionais». Tal pressão era mais
notória (ou mais descarada), enquanto as manifestações do sistema
capitalista estavam ainda algo confinadas ao controle de distintos
Estados nacionais soberanos.
Para
continuar, (se...) pois receio que «isto» esteja exposto de maneira
demasidamente abstracta...Mas, como é natural, deixo isso à
avaliação e critério crítico de eventuais leitores. )
Seja
como for, «isto» ainda vai dar para uns parágrafos de um livro em
gestação muito lenta...
1Como
é do conhecimento comum, o incentivo ao consumo surge depois do
incentivo primário de acumulação. É como que uma resultante de
«segunda ordem»... Vem depois. O incentivo à acumulação surge
primeiro como imposição categórica e inelutável e por causa da
«livre concorrência» nos mercados não regulados.