Na sequência de um dos comentários aqui colocados relativamente ao tema dos tempos de trabalho (ver mensagem anterior e comentário de Silva Alves) proponho aqui mais algumas reflexões avulsas...
Uma
das coisas mais paradoxais (será mesmo?...) das análises económicas
convencionais – as da escola neoclássica - é, por um lado, a sua
adopção do modelo da mecânica newtoniana para explicar a dinâmica
dos fenómenos mercantis. Já foi mesmo escrito, também por outros
autores, que a análise neoclássica é mesmo isso: uma mecânica dos
fenémnos mercantis.
Mas,
por outro lado, os economistas convencionais confundem com toda a
displicência conceitos tão fundamentais (e tão distintos) como
«preço» e «valor». Um pouco como se um físico confundisse com a
mesma displicência conceitos como «massa» e «peso». Ou seja, os
mesmo académicos que reclamam para a sua disciplina o rigor
analítico da Física, deixam de lado esse rigor quando se trata de
«separar os diversos níveis da realidade a estudar». Por outras
palavras, propõem-se estudar fenómenos ao «nível dos células,
tecidos e organismo», sem sequer pensar nos fenómenos subjacentes e
ao nível das moléculas e dos átomos.
Para
o caso aqui em questão - a relação entre, por um
lado, a «abordagem física» (os tempos de trabalho e as quantidades
de bens/serviços produzidos) e, por outro lado, a «abordagem
financeira» (os preços a que se transaccionam os referidos
bens/serviços entretanto produzidos e quem os compra e vende...)
- para o caso aqui em questão, dizia, é importante considerar
separadamente os níveis de análise que sejam adequados ou
aplicáveis.
Ao
longo dos últimos anos tenho tentado defender (e explicar) a tese de
que, para uma melhor compreensão dos fenómenos mercantis na sua
globalidade, os economistas deveriam também adoptar a separação (e
complementaridade) de níveis de análise dos cientistas físicos (e químicos... e biólogos...).
Uma coisa é o estudo das particulas subatómicas e respectivas
interacções, outra coisa – outros níveis ou camadas mais acima –
é o estudo das moléculas, células e tecidos... Mesmo considerando
que estes niveis ou "camadas" não se ignoram entre si na medida em que os
níveis mais baixos estão sempre a condicionar os níveis mais
acima. Mas não se confundem.
Nesse
contexto – e num primeiro momento analítico – os economistas
deveriam também estudar/considerar as condições físicas de
produção de bens e serviços («energia», «espaço», «tempo»....). Para já uma tal tarefa parece estar
institucionalmente a cargo de «engenheiros de produção» e
«sociólogos do trabalho». Aliás a maioria da literatura
especializada em «análise de valor» (a produção de
valor!...) é quase toda de autoria de «engenheiros de
produção» e «sociólogos do trabalho». Julgo que são muito
poucos os economistas que se aventuram por esses campos de estudo.
Penso
ainda que, uma vez «armados com esse conhecimento» (dos «niveis
fundamentais» da realidade económica), os economistas que se
pretendam cientistas sociais a sério, passariam então a um estudo
mais eficaz dos processos sociais de apropriação e distribuição
da riqueza produzida. Nesse aspecto os autores da «Economia
Política» clássica, do século XIX, estavam mais adiantados do que
os seu sucessores do século XX. Em suma, houve aqui um gravíssimo
retrocesso histórico, cujo preço andamos quase todos a pagar.