«Apanhados numa “Secular Stagnation”
http://inteligenciaeconomica.com.pt/?p=25750
03/03/2016
«Entrámos numa “age of secular stagnation”. A tese é de Larry Summers (titular da cátedra Charles W. Eliot em Harvard, President Emeritus of Harvard University, Treasury Secretary for President Bill Clinton, Director of the National Economic Council for President Obama …) e foi agora publicada pela ‘Foreign Affairs’ (edição de Fevereiro). Summers recupera a teoria da “secular stagnation” de Alvin Hansen (1938), mostra como, ao contrário das vulgatas correntes, ela integra os factos da actual crise e procura explicar "O que é" e “o que fazer a esse respeito". Do ponto de vista deste ex-ministro das Finanças de Bill Clinton, “Secular stagnation and the slow growth and financial instability associated with it have political as well as economic consequences. If middle-class living standards were increasing at traditional rates, politics across
the developed world would likely be far less surly and dysfunctional. So mitigating secular stagnation is of profound importance. (…) secular stagnation does not reveal a profound or inherent flaw in capitalism. Raising demand is actually not that difficult, and it is much easier than raising the capacity to produce.”
E Summers conclui: ”The crucial thing is for policymakers to diagnose the problem correctly and make the appropriate repairs.” Pois… talvez seja aqui que se revela uma ingenuidade de economista: esperar que os políticos façam o diagnóstico correcto e tomem as medidas apropriadas é, realmente, pedir demasiado. Portanto, nesta “age of secular stagnation” (em que o Japão foi, há décadas, o primeiro a entrar), estamos “japonizados” e vamos ser muito mal pagos. Ou então…
The Age of Secular Stagnation: What It Is and What to Do About It
Larry Summers | February 15, 2016 | published in Foreign Affairs
Summers published an article title, “The Age of Secular Stagnation: What It Is and What to Do About It,” in the February issue of Foreign Affairs. The article explores how expansionary fiscal policy by the U.S. government can help overcome secular stagnation problems and get growth back on track».
Tanta conversa para não falar da «lei da queda tendencial da taxa de lucro», nem do correspondente esgotamento de oportunidades de investimento lucrativo de que o capitalismo tanto necessita – «como o pão para a boca», como soe dizer-se... - para continuar a acumular e a existir...
Se ao menos estudassem história económica e, sobretudo, história do pensamento económico.
É neste contexto – de estagnação secular – que deve ser vista a última tentativa (desesperada...) do sr. Mário Draghi de reanimar a economia europeia por via da injecção de mais dinheiro...
Cada vez mais dinheiro... A custo zero... Melhor, até se paga aos bancos para eles receberem mais dinheiro do banco central... A ver se conseguem que se endividem as empresas (as pequenas... as outras não precisam, nem sabem o que fazer ao que já têm...) e as famílias para que, por via do consumo, façam mais encomendas às fábricas e a fornecedores de serviços... Mas sempre à custa do endividamento.
E aqui haja alguém que alerte para que «endividamento a custo zero não é propriamente endividamento»... Do estilo «toma lá este dinheiro, não tens que pagar juros e pagas quando puderes... Sabendo nós à partida que nunca vais poder pagar... Pois que o vais gastar em consumo...».
Dirão eles que não é assim, que a ideia é que com a reanimação da economia (por via do endividamento das famílias e das empresas que não tenham dinheiro «à mão») se venha a criar emprego e portanto a capacidade de repor os empréstimos contraídos.
Bem podem esperar sentados. Desde logo porque a criação de emprego, por causa da continuada progressão tecnológica e de ganhos de produtividade, nunca será proporcional às necessidades de reembolso dos empréstimos – há muito tempo que se sabe disso, há mesmo uma lei empírica a esse respeito.
Na imodesta e profética opinião deste escrevinhador de ideias soltas e peregrinas, só há uma solução. Ou melhor, um pacote de soluções: a redução sistémica de tempos de trabalho para toda a gente (sem redução do poder de compra efectivo) e recuperação de uma forma mitigada de proteccionismo económico nacional.
Isto porque nas actuais circunstâncias geopolíticas não parece viável impôr estas regras a todos os países do planeta. Lembro que os EUA, até hoje, só ratificaram duas das oito grandes recomendações da OIT relativamente a condições laborais.
No centro desse «pacote de soluções» (o pilar central...) estará a recuperação do papel central do Estado como motor da actividade económica, deixando-nos das fantasia pseudo-históricas da primazia da iniciativa privada. Todo o desenvolvimento económico historicamente registado teve por base e motor de arranque a iniciativa e o poder do Estado. O resto são historietas da carochinha, ou da cigarra e da formiga.