Dizia
Gunder Frank que não comparava as previsões dos economistas com as previsões da
astrologia porque isso seria um insulto para
com os astrólogos.
Nestas
coisas da análise e previsão económica, de facto, o caracter científico da «ciência»
económica deixa muito a desejar. Mas também não exageremos, a maior parte dos
economistas convencionais até são profissionais razoavelmente competentes e
alguns até muito, mesmo muito, competentes. O problema é estarem no paradigma
errado. Ou, se quisermos, no patamar errado de observação, a partir do qual acabam sempre por
ter uma visão distorcida dos fenómenos económicos.
Imagine o leitor destas linhas um eminente geógrafo que soubesse tudo e mais alguma coisa sobre montanhas,
colinas, vales e desfiladeiros, tudo sobre rios e seus afluentes, lagos
lagunas, baías, golfos e enseadas.
E mais. Que soubesse também tudo sobre correntes marítimas, marés,
ventos predominantes, relativa regularidade das chuvas e consequente erosão das
montanhas e das costas marítimas. . Para esse nosso geógrafo imaginário, os
vulcões seriam apenas montanhas de um tipo especial e que funcionavam como
tubos de escape para o calor de um mal imaginado ou pouco adivinhado «centro da Terra».
Mais ainda; que soubesse e explicasse
muito bem as práticas humanas de assentamentos e ocupação dos territórios, as
cidades e as vilas, as estradas e os caminhos secundários, sobre o porquê da
localização dos portos marítimos e fluviais assim como de vias férreas e aeroportos.
Mas agora imaginem também que esse nosso geógrafo pura e
simplesmente nunca (mas nunca) tinha estudado geologia.
Não fazia parte do curriculum e era mesmo matéria desconhecida. Nada se sabia sobre o que está por debaixo da superfície terrestre, mais ou menos visível. Assim sendo o nosso geógrafo imaginário nada poderia saber sobre placas tectónicas e deriva dos continentes.
Não fazia parte do curriculum e era mesmo matéria desconhecida. Nada se sabia sobre o que está por debaixo da superfície terrestre, mais ou menos visível. Assim sendo o nosso geógrafo imaginário nada poderia saber sobre placas tectónicas e deriva dos continentes.
Em consequência desse desconhecimento, quando acontecesse, como de
vez em quando acontece, que uma das placas tectónicas se roçasse por uma outra
placa tectónica e assim desse origem a um tremor de terra, o nosso geógrafo
imaginário ficava logo «às aranhas» e sem ser capaz de explicar o fenómeno.
Pois é.
Os nossos economistas convencionais – e com eles os nossos dirigentes políticos
- estão mais ou menos numa posição
semelhante. Falta-lhes quase sempre a perspectiva da continuada evolução histórica da sociedade
capitalista e dos fenómenos que decorrem da lógica da sua dinâmica evolutiva.
É difícil atingir esta simplicidade de exposição. Vou recomendar.
ResponderEliminarCom o conhecimento do autor (antigo colega das «Ciências da Complexidade»), e porque me parece pertinente, transcrevo um cometário que recebi via «email».
ResponderEliminar«...acrescentaria apenas que o problema que julgo ser ainda mais importante é que os geólogos conseguem explicar os tremores de terra, mas parece que também não conseguem prevê-los; e como diz o "nosso amigo" Epstein: "If you didn't grow it, you didn't explain its emergence."»