A PROPÓSITO DE DIVERSOS MANIFESTOS, VÁRIOS E DISPERSOS...
Confesso que cada vez tenho menos pachorra para ver
televisão, ouvir rádio e ler jornais portugueses. Mesmo assim sempre vou vendo
ou ouvindo um ou outro dos programas ditos de «debate político» e, por via das
«redes sociais» e da leitura de órgãos de imprensa internacional disponíveis na
«Teia», sempre me vou mantendo informado QB, sobre o que se passa neste mundo
cada vez mais baralhado.
Seja como for, mesmo com essa menor atenção à imprensa
local, vou ficando com a ingrata sensação de uma espécie de «conspiração do
silêncio» relativamente à intervenção política de um dos mais importantes
agentes políticos nacionais. Neste caso não será o «silêncio dos inocentes», bem
antes pelo contrário. Como será fácil de adivinhar estou aqui a referir-me à quase não
existência mediática do PCP.
Mesmo os comentadores que vão tendo tempo de antena e que se
reclamam da «esquerda» ou que se afirmam «progressistas» e «abertos de
espírito», mesmo esses vão fazendo os seus comentários e debates sobre a
situação política em Portugal (e a oposição e protesto que se vai fazendo
ouvir) como se o PCP não existisse. Devo esclarecer que não sendo militante, sou simpatizante,
«companheiro de combate» ou «amigo de longa data». De muito longa data…
Simpatia essa que já me custou alguns e muito significativos «amargos de boca - mas isso já são outros contos.
Vem tudo isto a propósito de diversos manifestos e
convocações que têm vindo a lume nos últimos tempos (muito naturalmente em
resultado do agravar da situação social e económica que vai afectando camadas
cada vez mais alargadas da população), todos eles – esses manifestos e
convocatórias - subscritos por diversas e legitimamente ilustres personalidades
da vida pública portuguesa, pessoas com responsabilidades cívicas e de
credibilidade firmada e apelando à «unidade da esquerda» ou ao
«espírito cívico de todos os patriotas» ou apelando também ao «sentido de
responsabilidade» das forças representativas da democracia e do progresso (para
o caso são tudo expressões de minha lavra mas que julgo reflectirem o sentido
geral daqueles apelos).
Subjacente a quase todos esses apelos parece estar
também a ideia de que «o PCP faz falta»… Até na medida que se reconhece a este partido
um papel crucial na movimentação e mobilização das pessoas. E no entanto, em
paralelo com este sentimento de que «o PCP faz falta», parece também pairar no
ar – entre as pessoas que fazem os referidos apelos - a ideia de que o PCP
sofreria de uma espécie de
«esquizofrenia sectária»…
Não sei porquê
(mesmo socorrendo-me de alguns conhecimentos de sociologia), fico antes com a
ideia de que haverá aqui algum desconhecimento das regras elementares de uma
espécie de protocolo institucional não escrito (muitas vezes as regras mais
poderosas são aquelas que estão apenas implícitas… Alguns antropólogos falam aí
de «silêncios sociais»…. Em linguagem chã dir-se-ia «coisas de que não se fala
à mesa»)…
Acontece que, para
além de ser um partido político (com uma história relevante na resistência ao fascismo e na luta pela democracia) o PCP é também uma instituição. E uma das
regras desse protocolo institucional a que os militantes e dirigentes do PCP
julgo serem particularmente sensíveis, é justamente a do espírito colectivo,
com todas as consequências que daí derivam.
Na empresa multinacional onde trabalhei durante quase 30 anos também era assim: em linguagem chã «vestir a camisola». Houve mesmo um «best-seller» que comparava a IBM com o PC da URSS... Tudo isto para dizer que de acordo com o tal «protocolo institucional», se as muitas personalidades independentes querem a participação do PCP numa espécie de «Frente Progressista, Republicana e Socialista», então a melhor estratégia – penso eu, numa de sociólogo – será mesmo a abordagem directa e formal QB com os órgãos directivos do PCP… Não faz muito sentido andar a tentar recrutar apoios em personalidades individuais sem antes ter assegurado a participação de uma força com o peso do PCP e que, ainda por cima, se presume «fazer falta à oposição» a esta autêntica contra-revolução neoliberal que, com «papas e bolos» nos vai prometendo uma espécie de «fascismo sem dor»….
Constitui-se uma espécie de comissão adhoc de democratas e
socialistas (gente progressista com créditos firmados…) e conversam com os
dirigentes institucionais do Partido. No actual contexto de «necessidade de
Resistência» , não seria muito mais eficaz (e até mais simples) do que uma
estratégia muito em estilo «todos ao
molho e fé em Deus» ?
Nisso, embora continue a não me ver como uma «personalidade
com créditos firmados» sou pessoa para alinhar.
O sentido de justiça e a honestidade intelectual estão patentes no que acabo de ler e, quaisquer comentários que por ventura fizesse por escrito, ficariam sempre incompletos. Mantenho que para nos podermos compreender não há como olhos nos olhos expormos o que pensamos. No entanto, como militante do PCP, não posso deixar de manifestar o meu apreço pela justiça que nos é prestada, talvez por ser tão rara.
ResponderEliminarParece-me que esse contacto muito provavelmente terá sido feito formal ou informalmente... mas a resposta foi não. Muitos dos signatários desses manifestos conhecem bem aliás a concepção leninista de partido que não se dilui nesses movimentos. E também há muito anti-PCP e anticomunismo (que não é a mesma coisa...) no meio dos signatários e a falta que o PCP lhes faz é mais as gentes que o PCP representa e mobiliza do que outra coisa. Por isso acredito e compreendo que a resposta tenha sido não. Mas da parte do PCP é pena que, embora não fazendo de máquina, não arranje umas carruagens para engrossar o comboio do descontentamento que os manifestos inegavelmente representam. Dantes dizia-se trazer para a luta amplas camadas da população, hoje parece haver uma desistência desse trabalho face aos intelectuais (que constituem o grosso dos signatários) como reflexo condicionado contra as 'folhas secas' que o abandonaram em massa desde os anos 80.
ResponderEliminarEstimado MReis,
ResponderEliminarNestas coisas de intervenção política, o meu único conforto (ou «desculpa») para uma continuada (mas cada vez mais relativa...) ingenuidade é o suposto facto, referido muitas vezes na literatura, de que os mais genuínos cientistas são todos uns ingénuos. Há mesmo um «teoria» em Psicologia (a chamada «análise transaccional» de base freudiana) que explica a permanente coexistência de três «eus» em cada um de nós: a Criança (curiosa imaginativa), o Pai (o adulto socializado) e o Calculador (o que está sempre a pesar os prós e os contras...).
Parece que (dizem...) os cientistas se caracterizam pelo permanente predomínio da faceta «criança»... MAS CONVÉM NÃO EXAGERAR