ESTÁ TUDO DOIDO OU SOU EU QUE ESTOU ZAROLHO?...
Diz a sabedoria popular que em terra e cegos quem
tem um olho é rei. Acrescentarei eu agora que «em terra de zarolhos quem tem os olhos sãos ‘está feito ao bife’» (como
diriam os meus netos…). Vou ouvindo dia após dia a crónica e os
comentários relativos ao assalto à bolsa dos cidadãos contribuintes e não deixo
de me espantar (eu pecador me confesso) com as banalidades e platitudes da
quase totalidade dos nossos comentadores… Portugal tinha e tem (desde há muitas décadas) um
probema grave de «divida privada externa» (o famigerado desequilíbrio» das
contas externas… Ou «importar mais do que
aquilo que se exporta»…) E vai daí, vamos lá a misturar alhos com bugalhos
e vai que surge uma dívida pública que, em meia dúzia de anos, salta de 60% do
PIB para 120%... Mas então a redução das «gorduras» do Estado é que
vai reequilibrar as contas externas?... E ninguém pergunta de onde vem o dinheiro que os
«mercados» têm para nos emprestar?... Como é?.... Esses «mercados» têm uma
fábrica de dinheiro?... Se assim não é, onde é que o foram buscar???...
Mas será que ninguém se dá conta da redução (para mais de metade!…) dos impostos (tipo IRC e IRS) que os Estados costumavam cobrar para
cobrir as suas despesas de funcionamento corrente?...
E alguns «analistas» ainda têm a supina lata de dizer que «os impostos estão
muito elevados»… Mas quais impostos?... E depois só falam do «aumento das despesas» (que é
preciso cortar, dizem eles...) e ninguém fala (ou confronta os ministros das finanças) sobre a redução das receitas ao longo das últimas três décadas?...
«Paraísos» fiscais?!... «offshores» ?!...
Tudo isso não passa de poeira nos olhos do
pessoal que paga impostos… Assim a modos que para entreter o pagode com umas «teorias
da conspiração» ou filmes pseudo policiais onde há uns sujeitos «bons» e outros
«maus»…
Parece que ainda não perceberam que o planeta
inteiro é hoje um «paraíso» fiscal para as grandes empresas e fortunas pessoais
que se possam permitir de pagar uns 2 ou 3% a advogados, bancos e «refúgios
fiscais», em vez de pagarem os 35% a 45% de IRC (ou IRS) que pagavam há uns trinta
anos atrás…
Por outro lado, os famigerados «Programas de
Ajustamento Estrutural» (versão anterior dos
actuais «Programas de Estabilidade e Crescimento») impostos pelo Consenso
de Washington (versão anterior – e de
âmbito alargado a todo o mundo - da
nossa conhecida «Troika») nunca resultaram, em parte alguma do planeta. Não há um só
país em todo o mundo onde tenham sido aplicados aqueles PAE’s (desde há uns trinta anos atrás) que se
possa apontar e dizer «resultou»… Não há um só. A emergência da China (uma economia gigantesca
dirigida pelo Estado… ) como potência económica de dimensão mundial que, por via
das suas importações de matérias-primas, foi aquilo que reanimou aquelas
economias nacionais arruinadas pela crise sistémica do capitalismo e entretanto
«saneadas» (reajustadas… diziam eles) pelos famigerados «programas de ajustamento
estrutural»…
Aqui há uns três anos atrás o «Financial Times» publicava um pequeno
artigo intitulado «Dívida, o pequeno e
sujo segredo do capitalismo»… Segundo o autor daquele artigo, a expansão do
crédito para possibilitar o consumo das famílias seria aquilo que tinha
impedido – até agora – uma «explosão social». Dizia o insuspeito «Financial Times» aqui há uns três anos
atrás… Perante este cenário aquilo que seria razoável
esperar da parte de pessoas – supostamente entendidas em coisa de Economia (e
sobretudo com um mínimo de conhecimento da História dos últimos dois séculos…)
- seria uma pergunta básica do estilo «será que a nossa teoria económica está
errada» ?...
Mas não. Os nossos «economistas convencionais» - acompanhados por tudo
quanto é gestores, executivos e comentadores de serviço – insistem em procurar uma
resposta plausível para a pergunta errada… E perante uma situação de crise despoletada (no
curto prazo..) por uma crise de dívida (o crédito mal parado das hipotecas «subprime») vamos lá a endividar-nos
(aceitando empréstimos leoninos) para resolver o problema da divida… É assim
como querer apagar um fogo deitando-lhe gasolina… E há uns comentadores que – muito
energicamente - insistem na necessidade de reclamar (ou mesmo exigir) uma «redução
dos juros» ou também um «alargamento do prazo de pagamento»… Ou seja, em vez
gasolina super de 98 octanas, apagar o fogo com gasolina normal de 95 octanas… Melhor
ainda seria «gasolina verde»… Talvez a dívida ficasse mais sustentável… E
depois dizem que «se não fosse assim (aceitarmos a dívida – nestas ou noutras condições) não vinha a próxima tranche do mpréstimo»… Mas imaginam eles que virá aí algum camião
carregado de notas de 100 euros?… E que tal mandá-los – aos credores - receber
a dívida «ao Totta» ?... Pode ser que assim talvez se sentissem obrigados a explicar a tal «dívida»... Na volta ainda tinham muito que devolver.
Ou está tudo doido ou sou eu que estou zarolho…
Dúvidas mais que pertinentes de quem não está zarolh. Mas o mundo não está louco... Faz o seu caminho, na relação de de forças de umaluta de classes. Isto digo eu, que talvez sofra de cataratas...
ResponderEliminarAs melhores saudações
De vez em quando dá-me para o desabafo. Muito em particular depois de uma ou outra tertúlia para que tenho sido convidado «a palestrar» e aí sou confrontado com uma espécie de «cegueira colectiva»... Dá-me por vezes a sensação que estamos vivendo numa espécie de «universo onírico» do estilo daquele filme «Matrix». Por outro lado, de facto, a luta de classes parece estar viva e recomendar-se... Até já temos um ex-vive-presidente da Moody's a «apelar à Revolução»... Ao que isto chegou... Dirão eles. Esperemos. A História continua e a vida lá fora também...
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