Ao
longo dos últimos dias têm aparecido, um pouco por todo o lado,
umas referências ao bicentenário do nascimento de Karl Marx. Não
me lembro se quando foi o centenário no nascimento de Albert
Einstein terá havido igual comoção pública. Um foi um génio das
ciências «histórico-sociais», outro foi um génio das ciências
«físicas». Também por isso Karl Marx pode – com toda a justiça
– ser considerado o Einstein das ditas ciências
«histórico-sociais». A grande – enorme - diferença é que um
mexe com um ramo do conhecimento que os «donos disto tudo» ou a
alta burguesia, facilmente controla e de que até se aproveita com
toda a naturalidade. A Física e a Química são fundamentais para a
produção e controle das riquezas. Enquanto que o outro mexe
directamente com um ramo do conhecimento que põe directamente em
causa a sustentabilidade lógica do sistema de produção e
distribuição de riqueza a que chamamos Capitalismo.
Já
nem falo da Ética, pois que essa faceta não tem a ver com «ciência»
pura e dura...
Entretanto
tal como Einstein cometeu alguns erros – em relação a um deles (a
famigerada «constante cosmológica») o próprio afirmou ter
cometido a maior asneira da sua vida, sendo que afinal parece que nem
terá sido uma asneira.
Mas
adiante. Pois se Einstein (e também Newton já agora...) cometeu
erros, nada de mais natural que, no meio de milhares de páginas
escritas, também Karl Marx tenha cometido alguns erros.
Designadamente na forma como se exprimiu relativamente a alguns temas
e problemas mais bicudos e, sobretudo, com as várias mudanças de
formato com que queria apresentar (sublinho o apresentar!...) as suas
teses.
Mas
continuemos.
Na
minha assumidamente imodesta opinião, o comportamento evolutivo da
taxa de lucro é o elemento crucial que ajuda a compreender a lógica
e a dinâmica profunda do sistema capitalista, com reflexos
indirectos, mas fortíssimos, na nossa vida diária. Desde a
corrupção com que nos bomdardeiam todos os dias, até às guerras
por causa dos combustíveis fósseis e das tentativas de manter uma
hegemonia politico-militar a todo o custo, passando pelas
privatizações de tudo e mais alguma coisa.
Entretanto,
o fenómeno recorrente da tendência para a queda da taxa de lucro
era (e é!...) um fenómeno empiricamente constatado. Essa
constatação já vem desde pelo menos os tempo de Adam Smith. A
noção de que é preciso provar (ou demonstrar...) essa queda
tendencial da taxa de lucro é uma noção profundamente errada.
Repito e sublinho: é uma noção profundamente errada. Seria como se
fosse necessário demonstrar a força da gravidade. Um tal «erro»
só se pode explicar por enviesamento ideológico. E no entanto são
aos milhares as páginas publicadas a esse respeito. Para provar,
confirmar ou infirmar se de facto existe, ou não, uma tal tendência.
Ficamos
com a sensação de que depois de os clássicos – e mesmo Keynes
nos tempos mais recentes – terem constatado, observado e relatado a
referida tendência para a queda da taxa de lucro (e lembremos que a
maximização do lucro é o farol que orienta toda a actividade das
empresas...), por artes mágicas da «Natureza», essa tendência
evaporou-se... Saiu do planeta Terra e foi dar uma volta por outra
galáxia.
A
esse respeito veja-se a incontornável Wikipedia:
«A
tendência para a queda da taxa de lucro é uma
hipótese (note-se bem, digo eu...) uma «hipótese» em teoria
económica e economia politica, famosamente exposta por Karl
Marx no capítulo 13 de O Capital, Volume III.»
Uma
hipótese... O autor daquelas linhas que se atire de uma janela
abaixo e logo vê se a tendência da força da gravidade para atrair
os corpos pesados também precisa de ser «demonstrada».
Mais
adiante, na mesma Wikipedia, vem:
«No
seu manuscrito de 1857 «Grundrisse», Karl Marx considerou a
tendência para a queda da taxa de lucro, «a mais importante lei da
economia política» e procurou dar-lhe uma explicação causal, nos
termos da sua teoria da acumulação de capital. A tendência vinha
já pressagiada no capítulo 25 d'«O Capital», Volume I (Da “lei
geral da acumulação de capital“), mas na Parte 3 do manuscrito do
Volume III, editado postumamente por Friedrich Engels, vem uma
extensa análise dessa tendência. Marx considerava a tendência para
a queda da taxa de lucro como prova de que o capitalismo não poderia
durar para sempre como modo de produção dado que no fim se
esgotaria o próprio princípio do lucro. No entanto, porque o
próprio Marx nunca publicou qualquer manuscrito definitivo sobre a
tendência para queda da taxa de lucro, porque a tendência é
difícil de provar ou infirmar teoricamente, e porque é difícil
testar e medir a taxa de lucro, a teoria de Marx da tendência para a
queda da taxa de lucro tem sido um tópico de controvérsia ao longo
de mais de um século».
É
o que nos diz o repositório do conhecimento politicamente correcto
que é suposto ser toda e qualquer enciclopédia. Para o caso a
Wikipedia.
A
questão que aqui importa sublinhar é que, relativamente à «lei da
queda tendêncial da taxa de lucro» o quese tem que fazer não é
demonstrar. Trata-se sim de explicar... Sublinho: explicar!...
Mas
no que diz respeito às homenagens, publicações e reflexões sobre
o bicentenário do nascimento de Karl Marx, sobre estas questões –
cruciais para entender o Mundo – quase nada, perto de «nicles»...
Pela
minha parte (a imodéstia é muito feia, não é?...), já re-escrevi
o livro «Os “Erros” de Marx e os Disparates dos Outros»
(alterei o título do anterior livro que aproveitei em grande parte).
Editores?...
«Está difícil»... «É complicado»... «Talvez pró ano»...
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