terça-feira, 24 de abril de 2012

Ainda a Queda Tendencial da Taxa de Lucro... ALGUNS ESCLARECIMENTOS

Ou «o seu a seu dono»
A história da tendência decrescente da taxa de lucro é uma história que já vem de muito longe...
Já Adam Smith assinalava:
«Com o tempo, o estoque acumulado de capital torna-se então tão grande que deixa de poder ser aplicado com o lucro antigo nessa espécie de indústria que lhe é peculiar. Essa indústria tem os seus limites com todas as outras; e o aumento do estoque, ao aumentar a concorrência, necessariamente reduz o lucro.
Em «The Wealth of Nations».
Muito mais recentemente, um outro autor (herdeiro ideológico de Malthus e insuspeito de quaisquer tendências «marxistas» (John Maynard Keynes, para ser mais preciso), escrevia estas coisas (a propósito da taxa de lucro):
«Mas pior ainda. Não só a propensão marginal para o consumo é mais fraca numa comunidade rica, mas, devido ao facto de a sua acumulação de capital ser já maior,as oportunidades de mais investimento são menos atraentes a menos que a taxa de juro desça a um ritmo suficientemente rápido;»
Página 31 do «The General Theory»
assim como
«Torna-se então óbvio que a actual taxa de investimento será aumentada até ao ponto em que já não haja qualquer espécie de activos cuja eficiência marginal exceda a actual taxa de juro. Por outras palavras, a taxa de investimento será aumentada até ao ponto na curva de procura de investimento em que a eficiência marginal do capital em geral é igual à taxa de juro no mercado»
Capítulo 11 do «The General Theory»
Só que se trata de explicações «superficiais» (no sentido de apenas considerarem a superfície fenomenológica visível...).
Foi Karl Marx quem de facto avançou com uma explicação coerente, abrangente e conclusiva.
Mesmo assim tem havido MUITA polémica a esse respeito.
Entretanto - «o seu a seu dono» - o exercício que é aqui proposto (ver mensagem anterior) é apenas um desenvolvimento teórico elaborado a partir de um exercício apresentado (mas não concluído) pelo falecideo Prof. Ronald Meek, da Universidade de Leicester, num ensaio intitulado «The Falling Tendency of the Rate of Profit», incluído no livro «Economics, Ideology and Other Essays».
Para ter concluído aquele exercício seria necessário (penso eu...) usar técnicas de programação que não estavam ainda desenvolvidas na altura em que o Prof. Ronald Meek apresentou o seu esboço de exercício.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sobre a Queda Tendencial da Taxa de Lucro

Uma breve explicação para quem não esteja familiarizado com esta história... A lei da queda tendencial da taxa de lucro procura explicar a lógica intrínseca do sistema capitalista e o seu desenvolvimento histórico aos solavancos, oscilando entre períodos de expansão e períodos de estagnação relativa ou mesmo absoluta, senão mesmo retrocesso. Trata-se, em todo o caso, de uma lei polémica, no sentido em que (ao longo das décadas) tem sido alvo de controvérsias e distintas interpretações. Esta lei manifesta-se na contradição inerente aos processos de acumulação, evolução tecnológica (espevitada pelo lucro) e consequente acréscimos de produtividade e possibilidades de emprego da força-de-trabalho disponível. Por outro lado, esta lei da queda tendencial da taxa de lucro manifesta-se ao nível mais profundo da realidade económica, o nível dos valores, o qual por sua vez se manifesta de modo visível sob a forma de preços de mercado. Para usar uma metáfora, o nível dos valores será a camada geológica sobre a qual assenta a geografia dos preços. Nesse sentido, os «tremores de terra» ao nível dos valores, acabam sempre por se vir a reflectir em crises ou fenómenos visíveis ao nível dos preços, tais como sobre produção de bens e serviços, escassez de poder de compra, manipulação de dinheiro, inflação, desemprego; sendo que estes fenómenos variam de país para país, quer de acordo com a sua geografia, quer de acordo com as respectivas instituições. Ao nível «geológico» dos valores, temos então a considerar o jogo de relações entre o capital constante (aquele que corresponde a trabalho armazenado vindo de ciclos anteriores – máquinas, materiais, edifícios e outras estruturas...) e o capital variável (aquele que corresponde ao pagamento dos bens e serviços necessários à reprodução do factor «força-de-trabalho»), sendo que a soma do capital constante e do capital variável vem a ser o capital total investido (quer ao nível de uma empresa, de um sector de actividade ou do sistema económico como um todo). Tudo isso medido em termos de «horas médias de trabalho socialmente necessário» (para reproduzir o que quer que seja, «a partir do zero»). Da relação entre o capital constante e o capital variável vem a resultar o conceito de «composição orgânica do capital». Entretanto, durante o processo de produtivo, o capital variável (a força-de-trabalho...) acrescenta valor. Esse valor que tenha sido acrescentado é a única e exclusiva fonte do lucro global em termos de valores (o «nível geológico») sendo também de onde hão-se sair impostos, rendas, juros (no nível «geográfico» e institucional...). A taxa de lucro «bruto» e ao nível «geológico» acima referido, será então expressa por uma fracção em que o numerador é o valor acrescido em cada ciclo anual e o denominador é a soma do capital constante mais o capital variável. Por meio de uma elementar manipulação matemática (dividir ambos os termos da fracção pelo montante do capital variável) obtém-se então uma equação algo mais complexa em que a taxa de lucro é igual à taxa do valor acrescido a dividir pelo soma da composição orgânica do capital mais um. Neste modelo rudimentar aquilo que se propõe é apenas o seguinte: - O sistema está permanentemente sujeito a um processo de acumulação a qual é feita segundo uma determinada taxa, aqui designada por «Flow Back Rate» (ou taxa de refluxo). - Essa taxa de refluxo tem impacto sobre a constituição (e a produtividade) do capital constante e do capital variável. Daí vêem a resultar alterações nas proporções de capital constante e de capital variável para cada ciclo (ou iteração) do modelo. Nesta fase de elaboração do modelo, assumem-se como constantes o número de horas de trabalho assim como a «taxa de valor acrescido» (também conhecida como «taxa de exploração»). Aquilo que o experimentador pode «avaliar» é o impacto de uma maior ou menor taxa de refluxo e respectivos impactos nas proporções de capital constante e capital variável. Como se pode verificar, dependendo do número de iterações, a taxa de lucro começa sempre por subir mas acaba sempre por estagnar e descer. Para uma rudimentar demonstração veja AQUI