domingo, 29 de dezembro de 2013

A Propósito da Troika e de Keynes

A historiadora Raquela Varela publicou recentemente no blogue «5 Dias Net» http://blog.5dias.net/ uma mensagem sob o título «A Troika não erra, Keynes sim».
É interessante ler, mas sinto que será necessário chamar a atenção para algumas discrepâncias...
A resposta que se me oferece é esta:
«Em primerio lugar esclareço que não tenho propriamente a ideia de «defender Keynes»… 
Mas factos são factos e a história das ideias é a que é.
Keynes «limitou-se» a fazer uma síntese de muitas ideias que já andavam no ar. Kalecki elaborou antes dele uma teoria em tudo similar, mas como era Polaco, não teve a repercussão que teve Keynes. Hitler fez de facto uma política «keynesiana» “avant la lettre” e isso terá contribuído para atribuir ao «keynesianismo» a ideia de que o «militarismo» (a produção e as despesas de um complexo militar-industrial) são uma aplicação das ideias de Keynes, ele mesmo. Não são.
Keynes era simpatizante dos Fabianos - uma associação de adeptos de uma evolução “pacifica” para o socialismo, através de uma espécie de “friendly persuasion”. 
A esse respeito, ainda em muito jovem, lembro-me de um livro norte-americano que tinha como subtítulo «A Royal Road do Socialism»…
Resumindo «até à quinta casa», a política keynesiana consistirá em pôr o Estado a tomar a iniciativa de se substituir aos “privados” na função de investimento produtivo. Isso só deverá ter que acontecer (Keynes, dixit…) quando, e se, os “privados” não estiverem para aí virados. Isso – de os “privados” não estarem para aí virados – acontece por causa do «esgotamento progressivo (e relativamente a um período anterior) de oportunidades de investimento» (tese pessoal deste correspondente…) em resultado de uma famigerada queda tendencial da taxa de lucro; a qual tem vindo “ao de cima” de forma recorrente ao longo dos três ou quatro séculos que levamos de capitalismo.
As saídas – para esse esgotamento progressivo das oportunidades de investimento – têm sido a expansão colonial (e o imperialismo) e as guerras de destruição. E também (uma coisa “desleixada” por muitos analistas) a especulação financeira.
Hoje somos chegados a uma espécie de beco sem saída.
Não há mais «expansão colonial» (com a guerra dos Boéres o sistema-mundo passou de “sistema aberto” a “sistema fechado”) e as guerras, e
mbora continuem a ser de destruição, deixaram de “dar vazão” aos milhões de desempregados.
Estamos em plena especulaçãoi financeira!!!
Finalmente, na minha opinião, as políticas de Keynes – nos anos “gloriosos” da reconstrução até 1973/1974?…) – falharam porque “eles” (os adeptos de Hayek & Cª – e seus mandatários, Tatcher, Reagan e etc…) perceberam perfeitamente qual o rumo que o sistema estava a seguir… 
É ler o livro de Keynes «Economic Possibilities for Our Grandchildren»…
Um colega meu na IBM Zâmbia – jovem conservador britânico – referiu-se um dia a Keynes como «esse marxista encapotado»… Eu não iria tão longe, mas havia alguma razão para isso.

Acrescento ainda duas outras reflexões
Joan Robinson. amiga e “aluna” de Keynes, sendo uma «keynesiana de esquerda» é também usualmente considerada uma das maiores economistas do século XX. Alguns dos seus biógrafos atribuem parte da «revolução chinesa» de Deng Xiaoping à influência das visitas à China por parte de Joan Robinson e suas reuniões com os dirigentes chineses de então. A esse respeito veja-se o livro de 1975 «Economic Management in China».
Entretanto, não creio que Keynes achasse «que o melhor para a crise alemã era imprimir dinheiro». O que ele achava era que o montante das indemnizações – para ele exorbitante e desproporcionado – iria forçar os governantes alemães a desvalorizar a sua própria moeda.
De resto a Raquel tem razão na sua opinião de que «isto não vai com eurobonds”…
Já a «Taxa Tobin» (ou algo assim…) seria uma forma de REDUZIR a massa monetária que por aí anda em busca de aplicações financeiras (a especulação, sempre a especulação...). Ou seja, uma «taxa Tobin» seria um passo certo na direcção certa. E quanto mais “radical” mais efeitos positivos poderia ter.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

A Propósito da morte de Nelson Mandela

Todos em coro... «Morreu um grande Homem»...
Algumas reflexões avulsas e algo «contra-corrente»... 
De alguém que por vezes tem a mania de «marcher à coté de ses chaussures».

Aqui há uns meses atrás fui contactado por uma senhora jornalista para me pedir a minha opinião sobre aquilo que poderia acontecer na África do Sul quando morresse Nelson Mandela. Era ainda a repetição do síndroma «WHAM» («what happens after Mandela»). A minha opinião terá sido simples, curta e directa «quanto baste»:  
«Nada de especial»...
É evidente que o homem Nelson Rolihlahla Mandela esteve mais do que à altura das circunstâncias históricas em que teve que viver e figuras como ele (no século XX) talvez apenas Mahatma Gandhi. Curiosamente também foi na África do Sul (confrontado com a brutalidade estúpida de um regime de «apartheid» - ainda sob o domínio britânico!...) que também Mahatma Gandhi terá «acordado» para a sua militância pela justiça social.
Mas justamente pela sua grandeza moral como pessoa é que Mandela soube conquistar os seus opressores e levá-los à conclusão que o melhor mesmo para «eles» (os dirigentes «afrikanderes») era aceitarem uma África do Sul consolidada e plenamente integrada no globalização neoliberal onde eles já tinham – entretanto – garantido o seu lugar. Tudo isso, de uma «África do Sul unida e consolidada», em vez de uma balcanização em que cada «tribo» - incluíndo a «tribo» Afrikander - pudesse construir o seu próprio «estado-nação».
E lembrei (ou informei) a referida senhora jornalista de que o processo de libertação de Nelson Mandela tinha sido preparado, com muita antecedência. 
E até e sobretudo por pressão dos dirigentes do capitalismo sul-africano. 
Foi assim que durante os últimos anos da sua vida como prisioneiro, na prisão de «Victor Verster», Nelson Mandela passou a ser tratado com as mordomias adequadas a quem estava naturalmente destinado a vir a ser Presidente da República. Tudo isso – das condições de vida e das negociações sobre a libertação - está documentado.
E isso de modo a garantir a continuidade do sistema social e económico em que vivem (e sempre viveram) os sul-africanos. Bastava para isso «cooptar» os principais dirigentes «negros» (e outros «não.brancos») para posições de relevo social e económico. Em jargão lusitano «em vez de serem os brancos a arcar com a odium de reprimir os trabalhadores pretos, que fossem então agora alguns dirigentes negros a encarregar-se dessa tarefa».
Uma eventual marcha para o Socialismo, como parecia ter sido a promessa da luta do ANC, isso era uma outra questão.
Aquando das provas públicas da tese «A África do Sul e o Sistema-mundo – Da Guerra dos Boeresà Globalização» tive ocasião de comparar De Klerk com Marcelo Caetano. Este não tinha tido a coragem suficiente para fazer uma descolonização «a tempo e horas». Aquele dirigente africander, tendo visto o que tinha acontecido com as antigas colónias portuguesas, «pôs as barbas de molho» e decidiu fazer aquilo que fez: um golpe de Estado para forçar a demissão do seu antecessor P.W.Botha (o qual hesitava e continuava a hesitar naquilo que fazer para acabar de vez com o regime de «apartheid»).
O resto é história.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Bancos e Banqueiros nalguma Tradição Medieval

Anda por aí na literatura, em algumas «redes sociais» e em alguma imprensa a ideia de um possível retrocesso histórico a uma espécie de «Uma Nova Idade Média»...
Pois bem , num livro de um senhor Stephen Zalegna (do «American Institute of Money», 2002) intitulado
 «The Lost Science of Money - The Mythology of Money, the Story of Power» 
 vem a certa altura esta coisa deliciosa:
«These banks were private enterprises and ran into typical banking troubles, as seen from the banking laws enacted (na  Catalunha) in 1300-1301: "No money lender shall keep a bank in any place in Catalonia unless he shall fisrt given assurance (a bond)... "No moneychanger who may fail, and none who has recently failed or in times past has failed, shall again keep a bank or hold any office under the Crown" and "Until he shall have satisfied all demands, he shall be detained on a diet of bread and water."
An appendix was added in 1321:
"If no such settlement is made, they shall be proclaimed bankrupt and disgraced by the public crier in the places in which they failed and throughout Catalonia. They shall be behead and their property shall be sold for the satisfaction of their creditors by the Court... Neither we nor the most high heir apparent, nor our successors may pardon any money changers who have failed or may henforth failed". And "In 1360 Fracesh Castello was beheaded in front of his bank"».
Em tradução algo liberal mas o mais fiel possível será assim: 
 
«Estes bancos eram empresas privadas e incorreram nos típicos problemas bancários, como se pode ver pelas leis bancárias decretadas (na Catalunha ) em 1300-1301: "Nenhum prestamista poderá manter um banco em qualquer lugar na Catalunha, a menos que antes disso dê certeza de garantias (bens susceptíveis de confisco...) "Nenhum cambista que possa falir, e nenhum que tenha falido, recentemente ou no passado, poderá abrir novamente um banco ou ocupar qualquer cargo (público) sob a Coroa" e “Até que tenha satisfeito todas as exigências, deve ser detido numa dieta de pão e água."
Em 1331 foi acrescentado um apêndice:
"Se não for feita tal liquidação (de dívidas), (esses prestamistas) devem ser proclamados falidos e desgraçados (denunciados) pelo pregoeiro público nos lugares em que eles tenham falido e em toda a Catalunha . Serão decapitados e as suas propriedades serão vendidas para a satisfação dos seus credores pelo Tribunal. .. Nem nós (o soberano...), nem o (nosso...) mais alto herdeiro, nem nossos sucessores poderão perdoar quaisquer cambistas que tenham falido ou possam vir a falir”.
E "em 1360 Fracesh Castello foi decapitado na frente de seu banco" ».
 
Esta estória da decapitação do banqueiro Fracesh Castello vem também referida no livro 

Meltdown: Money, Debt and the Wealth of Nations, Volume 4, página 231.

Colectância de ensaios e artigos editada por William Krehm
Journal of the Committee on Monetary and Economic Reform, January 2004 to June 2005
Olha se alguém leva a sério esta estória de um eventual retrocesso a uma «Nova Idade Média»...
Chiça, ainda bem que não sou banqueiro nem estamos na Catalunha...

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Poder da Barreira Ideológica

Eles queimaram Giorgano Bruno porque cometeu a heresia de tentar explicar que o Sol era apenas mais uma estrela entre tantas outras no Universo. Nicolau Copérnico teve medo de publicar em vida as suas reflexões e descobetras sobre a natureza do cosmos e dos sistema solar. Eles condenaram Galileo a uma prisão domicilária vitalícia (e mesmo assim porque o dito Galileo «abjurou» da suas tese herética de que a Terra girava à volta do Sol.
São apenas três exemplos históricos que me ocorrem (coisas profundas de quem tem pouco mais com que se entreter...) a propósito de mais uma daquelas parvoíces com que, de vez em quando (ou melhor, com demasiada frequência!...) nos vais brindando o muy ilustre e nunca demais badalado professor catedrático da Universidade Católica, João César das Neves.
Parece que só assim, escrevendo parvoeiras, o homem consegue que se fale dele.
Desta vez «parvoou» forte. 
Só pode ser porque a ideologia ou escolástica académica (uma «ideologia matematicamente pura»...) que lhe inculcaram na Universidade o impede de ver melhor e sobretudo «mais longe».
Entre a parvoeira de «a maioria dos pensionistas com uma pensão de 600 euros» fingirem que são pobres para «defenderem o seu» e a parvoeira de que a solução (ou saída) para a crise em que estamos seria mesmo «reduzir ainda mais os salários», venha o diabo (cruz, credo...) e escolha.
No caso do «fingimento» a coisa atinge o nível do insulto desbragado, indigno de um ilustre catedrático.
No caso de uma maior «redução dos salários» a coisa entra no campo da estupidez, pura e dura. Parafraseando um outro ilustre catedrátio, entretando já falecido, mesmo sendo eu (ou tendo sido) apenas um obscuro «professor auxiliar convidado», um mestrando que me aparecesse com essa ideia peregrina era chumbado e mandado regressar no ano seguinte; depois de instado a estudar melhor a matéria.
Ao nosso ilustre catedrático não se lhe ocorre que todos os países do mundo gostavam de exportar mais (deve ser para isso que serviriam os «salários ainda mais baixos...) de modo a terem - eventualmente - um excedente comercial qualquer, para assim pagarem as suas «dívidas»... E sobretudo não se lhe ocorre que a ideia de todos os países do mundo terem um excedente é uma impossibilidade contabilistica...
«Andam todos ao mesmo», como nos explicava, há uns 30 anos atrás, um professor da Sorbonne num «seminário» de duas semanas intensivas da multinacional em que então trabalhava.
E não se lhe ocorre também que sendo o sistema económico mundial - de âmbito planetário - um sistema fechado, aquilo que se fizer «aqui» tem sempre repercussões «ali»...
Sendo a Universidade Católica um estabelecimento de ensino da Igreja e tendo esta a convicção de que é a representante de Deus na Terra - logo com tendência ao universal, a ver o mundo como um todo integrado confesso que esperava mais e melhor (uma outra visão «universal») de um seu catedrático.
Afinal pensa como um contabilista doméstico.
Mas atenção, tendo feito há mais de cinquenta anos atrás o antigo «Curso Geral de Comércio» (qualificava para ajudante de guarda-livros...) tenho o maior respeito pelos contabilistas.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Propostas de Engenharia Social

Neste blogue tenho procurado ir reflectindo - de forma esporádica - sobre a lógica e mecanismos de funcionamento do sistema capitalista (é aquele que temos...).
Tudo isso - essas reflexões - na premissa de que (como dizia Kurt Lewin) «não há nada mais práctico do que uma boa teoria». Por outras palavras, na minha modesta opinião, todas as propostas que vai havendo para sair da crise e/ou para «resolver os problemas do mundo», só serão verdadeiramente eficazes se forem baseadas num conhecimento de tidpo ciêntífico sobre os referidos mecanismos (e sua lógica) do funcionamento do sistema capitalista.
Em todo o caso, no entanto, sempre será possível - nada impede - que haja soluções que «acertem» tal como acontecia com o conhecimento empirico dos engenheiros e arquitectos que construiram (ou fizeram construir) grandes estruturas físicas (aquedutos, pontes, catedrais...) sem terem conhecimento da natureza íntima da teoria gravitacional e da «atracção universal dos corpos celestes».
Pois bem, de vez em quando aparecem propostas a que talvez valha a pena prestar atenção....
É o caso de uma «proposta vinda da periferia do mundo» 
 
BUEN VIVIR

 A pedido dos seus organizadores - a Organização Não Governamental CIDAC - trago aqui a notícia de uma conferência a realizar no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian, no próximo dia 7 de Novembro pelas 18:30.






terça-feira, 25 de junho de 2013

Coisas que vou rabiscando - 1

Da Relevância Crucial da Teoria (laboral) do Valor
No seu objectivo de explicar e justificar determinados fenómenos da economia em que vivemos e cujas consequências afectam de modo desigual a generalidade dos membros da sociedade humana, os economistas convencionais ou da chamada linha principal, há muito tempo já que decretaram – segundo julgam a título definitivo – que estavam profundamente erradas as ideias de Karl Marx relativamente ao funcionamento da economia capitalista. Mas nem sempre foi assim. No seu, tempo, mesmo sendo um autor já então perseguido ou ostracizado, havia pelo menos a ideia de que a análise de Marx sobre o sistema capitalista reflectia de facto – explicando-a com rigor – a realidade objectiva e observada dos factos económicos. Por exemplo, a própria Igreja Católica chamava a atenção para aquilo a que então se chamou de “A Questão Social”, justamente com base na observação dos fenómenos sociais explicados pela análise produzida por Karl Marx relativamente ao funcionamento da economia capitalista. Ainda por exemplo, Karl Rodbertus, um economista conservador e contemporâneo de Karl Marx, acusava mesmo este último de o ter plagiado, muito em particular no que diz respeito à sua formulação da teoria laboral do valor. Ou seja, no tempo de Karl Marx não era propriamente o fundamento da sua análise sobre o modo de funcionamento do sistema capitalista que era posto em causa. Aquilo que se punha em causa – nos círculos académicos, sociais e políticos dos dirigentes do sistema - eram as consequências que daí podiam naturalmente advir. Designadamente a tentativa “revolucionária” de acelerar o curso da História e “forçar a passagem” para um outro sistema de organização social e económica.
Poderá mesmo considerar-se (sem forçar muito a nota...) que a emergência da abordagem marginalista, por via dos trabalhos de autores como William Jevons (1862), Carl Menger (1871) ou Léon Walras (1874), não podendo propriamente ser considerada como uma resposta ao paradigma analítico desenvolvido por Karl Marx1, pode antes ser considerada como uma especificidade analítica do tipo de comportamento decisório por parte dos agentes económicos, quer na produção, quer no consumo. Por outras palavras, não se trata de discutir se o paradigma analítico marxista está errado e o paradigma analítico marginalista está certo, ou vice versa. Enquanto que o paradigma analítico marxista explica o modo de produção e distribuição da riqueza mercantil produzida, o paradigma analítico marginalista explica as razões das tomadas de decisão por parte dos agentes económicos, relativamente à dimensão quantitativa (ou situação “óptima”), quer do lado dos factores de produção quer do lado do consumo. São duas facetas distintas e complementares que, no entanto, aparecem quase sempre apresentadas como se fossem “paradigmas alternativos”.
Voltando entretanto à questão das possíveis consequências de uma compreensão plena e eficaz dos mecanismos e da lógica de funcionamento do sistema capitalista (conhecimento é poder...), tornou-se urgente refutar as bases teóricas das análises expostas em “Das Kapital “ de modo a que as mesmas pudessem ser “varridas para um qualquer caixote do lixo da história das ideias”.
Foi assim que a teoria marginalista veio devidamente aproveitada para, através de uma exclusiva atenção ao epifenómeno do “preço”, se esconder por debaixo do tapete, o interesse da categoria analítica “valor”.

1Em rigor dir-se-ia antes que a emergência das ideias do marginalismo eram um desenvolvimento da teoria da renda de David Ricardo (“é o valor produzido nas terras marginais aquilo que determina a renda das terras mais férteis”...), implicando no entanto o abandono da teoria laboral do valor, desenvolvida pelos clássicos e reelaborada, de forma crítica, por Karl Marx. Em todo o caso, o primeiro volume de “Das Kapital” até só foi publicado em 1867, ou seja 5 anos depois da publicação do artigo de William Jevons General Mathematical Theory of Political Economy .

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Dinâmica Recente do Capitalismo

Parafraseando Hegel, mas também a nossa sabedoria popular, «o que tem que ser, tem muita força»... Lénine dizia algo de semelhante quando dizia algo como «os factos são muito teimosos».
E os factos aí estão...


Dinâmica Recente do Capitalismo
Em 20 frases simples
(e numa perspectiva de poucas décadas)


01. O próprio do capitalismo é crescer e acumular, acumular e crescer.
02. A "cenoura" – motivação – e motor da actividade é a busca de lucro.
03. A taxa de lucro funciona como «acelerador», «travão» e ainda como «caixa de velocidades». Acontece que a taxa de lucro tem períodos de subida, de estagnação e de descida
04. Entretanto o montante dos lucros empresariais repartem-se em: rendas (pagamento aos «senhorios»), juros (pagamento aos «donos do dinheiro») e impostos (pagamento pelos serviços básicos do Estado minimalista).
05. Quando a taxa de lucro começa a descer verifica-se uma busca desenfreada por «saídas» (ou «aplicações»...) para o excedente potencial, com a sua conversão em excedentes financeiros.
06. Assim sendo, quando a TAXA de lucro começa a descer, para manter incólume a MASSA (o montante) dos lucros, o Capital procurará reduzir as transferências para os «senhorios», para os «bancos» e para o Estado… 
07. Como os donos do Capital se combinam/misturam facilmente com os «senhorios» e com os «donos do dinheiro», os «custos» dessa redução sobram naturalmente para a Res Pública.
Daí veio a resultar:
08. Uma exigência de redução nas taxas dos impostos tipo IRC e de IRS aplicáveis aos donos e agentes do Capital.
09. Para facilitar a optimização fiscal, um manipulação e ajuste das normas e padrões de contabilidade.
10. Ainda para facilitar a optimização fiscal, uma exigência da flexibilização dos padrões e enquadramento legal da auditoria.
11. Veio também a liberalização dos movimentos de capitais financeiros o «Bigger Bang» e os «Euromarkets» consagrando o dinheiro virtual sem qualquer controle estatal/nacional.
12. Entretanto... Dos ganhos de produtividade veio a resultar uma «compressão dos salários» e o «desemprego sistémico»... Logo, redução do poder de compra global ou a nível sistémico...
13. Se o sistema reduz o poder de compra agregado, há que facilitar o acesso ao CRÉDITO (como fonte de receita para os bancos).

14. Temos assim uma dupla BIFURCAÇÃO nas Taxas de Juro
Entidades
Bancos Comerciais
Bancos Centrais
Destino
Consumo
Investimento
Efeito
Aumento = Usura
Redução = Quantitative Easing
15. Tivemos assim e também a abolição das Leis da Usura (ou seja, a permissão de taxas de juro sem limitações...)
 16. Daí veio a resultar um aumento exponencial do consumo a crédito e naturalmente o aumento da dívida privada.
17. Da redução das taxas daqueles impostos e da «optimização» fiscal veio a resultar o aumento do défice público, forçando os Estados a «vampirizar» as respectivas Seguranças Sociais.


18. Temos entretanto a inoperância da redução das taxas de juro para o investimento reprodutivo de bens e serviços, pois que «com uma corda não se empurra uma carroça»
19. Na falta de outras «aplicações» e/ou «fontes de rendimento», a «Banca» (em especial na zona Euro...) aproveita para «financiar» a dívida pública...
20. De tudo isto só pode resultar uma propensão para a instabilidade social, o caos e, eventualmente, a guerra...
Dá para perceber, ou é preciso fazer uma diagrama?...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Coisas de longe...

ALGUMAS REFLEXÕES AVULSAS SOBRE DÍVIDA E METÁFORAS

Ainda longe deste «jardim da Europa à beira mar plantado» recebi, de um amigo de longa data, este texto delicioso que parece que volta a circular pela Rede.

«Curso rápido de Economia...
Um viajante chega a um hotel para dormir, mas pede para ver o quarto. Entretanto, entrega ao recepcionista duas notas de 100 euros.
Enquanto o viajante inspecciona os quartos, o gerente do hotel sai a correr com as duas notas de 100€, e vai à mercearia ao lado pagar uma dívida antiga... 
Exactamente de 200 euros. 
Surpreendido pelo pagamento inesperado da dívida, o merceeiro aproveita para pagar a um fornecedor uma dívida que tinha há muito... também de 200 euros.
O fornecedor, por sua vez, pega também nas duas notas e corre à farmácia, para liquidar uma dívida que aí tinha de... 200 euros.
O farmacêutico, com as duas notas na mão, corre disparado e vai a uma casa de alterne ali ao lado, liquidar uma dívida com uma prostituta.... 
Coincidentemente, a dívida era de 200 euros.
A prostituta agradecida, sai com o dinheiro em direcção ao hotel, lugar onde habitualmente levava os seus clientes e que ultimamente não havia pago pelas acomodações. 
Valor total da dívida: 200 euros.
Ela avisa o gerente que está a pagar a conta e coloca as notas em cima do balcão.
Nesse preciso momento, o viajante retorna do quarto, diz não ser o que esperava, pega nas duas notas de volta, agradece e sai do hotel.
Ninguém ganhou ou gastou um cêntimo, porém agora toda a cidade vive sem dívidas, com o crédito restaurado e começa a ver o futuro com confiança!
MORAL DA HISTÓRIA:
NINGUÉM ENTENDE A ECONOMIA! (nem o gajo que escreveu isto!)
E MUITO MENOS EU. MAS FICOU TUDO SALDADO E SEM RECURSO AOS TRIBUNAIS!!! SAFA!!!»
A história está com alguma piada e até tem a sua verosimilhança...

Faltaria apenas acrescentar o pequeno, mas nada insignificante, detalhe da ausência de um banqueiro ou agiota naquela historieta. Tudo ali se passava na base da confiança recíproca entre todos os participantes.

Se juntarmos à história a presença (existência) de um banqueiro ou agiota (esta coisa de eu escrever «banqueiro OU agiota» nem é inocente nem é uma questão de estilo literário...) e pensando na Dívida pública do «nosso» Estado, poderíamos chegar à conclusão  – na nossa vida real da alegadamente nossa «Dívida» objectiva e concreta de 127% do «nosso» PIBde que uma saída para esta crise da dívida será (há-de vir a ser...) a nacionalização da Banca. 
O resto serão detalhes para «contabilistas» armados em políticos.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Afinal ainda mais um esclarecimento

A situação inicial
Na janela proposta aqui para que se façam «experiências» sobre a possível evolução da taxa de lucro - variável determinante do comportamento de todos os agentes económicos e do sistema como um todo -
Trata-se, naturalmente, de uma situação hipotética que pretende representar um «capitalismo abstracto subjacente ao capitalismo real» de fins do século XVIII. Nisso sigo o autor Ronald Meek (Economics and Ideology and Other Essays, 1967).
Temos então que o capital total à disposição do «capitalista colectivo» aparece aqui como sendo constituído por 12.000 «unidades». 
Estas 12.000 «unidades», tanto podem ser expressas sob a forma de «o resultado acumulado de uns tantos milhares de horas de trabalho» como «X toneladas de "alimentos" mais Y «unidades de ferramentas».
A relação aqui assumida - nesta hipotética situação inicial - é a de 1 (uma) unidade de «capital-máquina» (ou capital constante) para 5 (cinco) unidades de capital-pessoas (ou capital variável).
Presume-se também que o colectivo das pessoas trabalhadoras, trabalhando 10 horas por dia, produz o suficiente para que esse «colectivo» se mantenha vivo e activo, assim como o suficiente para a sua reprodução geracional, e  ainda mais «alguma coisa» que reverte para os «capitalista colectivo» (ou «factor capital»).
É a esse excedente (que reverte para o «capitalista colectivo») a dividir pela totalidade (as tais 12.000 «unidades») inicialmente «investida» que se chama aqui «taxa de lucro sistémico».
O qual «lucro sistémico» é depois disfarçado, camuflado e recoberto de mil roupagens e maquilhagens de cosméticas pseudo-financeiras, ao ponto de se travestirem prejuízos sistémicos em lucros bolsistas.  
Houve um dia em que um meu amigo (professor universitário de matemática) depois de «olhar para isto» fez «quase de imediato» a observação (ou algo assim...) de que «a solução para o sistema funcionar equilibradamente, era reduzir os tempos de trabalho»
Agora procurem lá explicar isto aos «economistas» CONVENCIONAIS que nos desgovernam. Ou então, procurem explicar o significado da expressão: «actuar na conjuntura tendo em conta a estrutura do sistema»
E depois disto, começo a pensar que é mais fácil explicar as minudências da mecânica quântica, o «entrelaçamento das partículas subatómicas» ou a experiência da suposta «dualidade partícula-onda», do que explicar estas coisas da economia política. 
Se calhar o Lénine é que tinha razão: para perceber isto tudo, se calhar, primeiro é preciso estudar a «Ciência da Lógica» de Hegel...

sábado, 11 de maio de 2013

A PROPÓSITO DE ALGUNS COMENTÁRIOS – 5

Para concluir os esclarecimentos...
Com base nas indicações feitas nas mensagens anteriores espera-se que os observadores deste blogue – quaisquer outros visitantes – sintam interesse em «brincar» com o (MUITO) rudimentar modelo aqui proposto.
Reproduzo aqui, de novo, o gráfico inicial – que é o resultado de uma «simulação» efectuada. Podem experimentar outros números, mas atenção que uma casa centesimal (estamos a falar de efeitos ao longo de muitas décadas) pode fazer toda a diferença.
Assim, nesta simulação, considerei que haveria (teria havido...) ao longo dos dois últimos séculos uma taxa média de refluxo de 1,5% (ano, após ano...); um impacto (ou crescimento) médio de 2,8% na produtividade agregada e uma taxa de destruição de valor («ocasional»... as guerras...) de 25%.
No gráfico aqui exibido pode ver-se a situação subjacente à ocorrência de graves crises sistémicas em intervalos variáveis, mas também com alguma regularidade. Um historiador poderá pensar aqui em anos de referência como «1840«, «1875», «1929» ou «1975»...
Ou então lembrar a famosa «Onda de Kondratieff».
Tanto quanto eu saiba, o único economista que considerou a hipótese de a oscilação da taxa de lucro estar subjacente à «Onda de Kondratieff» foi Ernest Mandel. De resto não encontrei mais qualquer referência na literatura consultada.
Claro que faltaria MUITO para melhorar este modelo.
Mas com os meios disponíveis (e a carolice de um voluntário em «part-time» esporádico) é o que se pôde arranjar. Nesse contexto não posso deixar de registar o meu agradecimento ao meu amigo e ex-colega de estudo António Figueras,  (doutorando em Ciências da Complexidade), pela disponibilidade e trabalho efectuado na programação do modelo aqui apresentado.

Coisas mais que se possam via a fazer...
Desde logo, afinar os critérios que levam o sistema programado a despoletar um subprocesso societal de «destruição de valor»...
Um outro aspecto a considerar seria a hipótese de programar como simular os «mecanismos de atenuação ou "fuga do abismo" da queda da taxa de lucro». De facto, no mundo real do muito complexo entrelaçamento entre a Economia e as Finanças, tem havido muitas técnicas para obviar aos efeitos imediatos – no rendimento dos «donos do Capital», de modo a «adiar o mais possível o inevitável».
Por outro lado, adoptar antes a abordagem da modelação com base em agentes ("Agents Based Modelling") em que os diversos agentes heterogéneos, tivessem apenas em comum a «função de utilidade» (maximização do seu benefício pessoal) sujeita (ou constrangida) a esta lógica aqui programada.
Mas haverá mais coisas que outros poderão sugerir, depois de entenderem as idéias que lhe estão aqui subjacentes.
Para concluir, uma coisa que ainda me vai surpreendendo (?...) é o facto de não ter ainda surgido um candidato a doutoramento em Ciências da Complexidade que se queira meter a elaborar uma Tese sobre esta temática.
Já houve prémios «Nobel» em  Economia por «avanços» muito menos significativos na compreensão dos fenómenos económicos
Mas, seja como for, ou por outro lado, está-me a chegar a fase da «cana de pesca». Estou disponível para comprar uma e começar a sentar-me nas rochas junto à praia, aqui a uns 500 metros de casa...
Não haverá por aí ninguém que queira vender uma cana de pesca usada? 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A PROPÓSITO DE ALGUNS COMENTÁRIOS – 4

Quase a acabar (estes esclarecimentos...)

Considera-se que – em última análise – a totalidade da sociedade humana se pode «resumir» a dois grandes grupos de agentes económicos. Estou a falar de «modelos representativos», «arquétipos» ou «entidades abstractas» que no entanto se corporizam em pessoas e instituições concretas.
A sociedade humana como um todo, na sua interacção com a Natureza, dispõe de dois tipos de instrumentos, meios ou «ferramentas». Por um lado será o «capital acumulado» (sob a forma de máquinas, tecnologia – ou saber acumulado - estruturas fabris diversas e outras obras de engenharia vindas do passado); por outro lado será o «capital vivo», a capacidade que os seres humanos vivos têm de trabalhar e produzir o que quer que seja.
No modelo que aqui se procura explanar, ao capital acumulado chamamos de «capital constante» (ou «constant capital») e ao capital vivo chamamos de «capital variável» («variable capital»).
Em cada ciclo de produção (anual, por exemplo...) todos e cada um dos membros «adultos» da sociedade humana está em permanente processo criativo. Daí resultam (têm resultado...) permanentes melhoramentos sobre as «formas de trabalhar» nos mais diversos tipos de actividade. São os ganhos de produtividade.
No modelo que aqui se procura explanar, na sequência de cada ciclo de produção (de tudo e mais alguma coisa) considera-se que alguma parte do excedente produzido reflui (regressa ou retorna) para o sistema sob a forma de «investimento» e que nesse investimento há ganhos de produtividade.
A esses ganhos de produtividade chama-se aqui «impacto sobre o "capital constante"» e «impacto sobre o "capital variável"».
Presume-se que cada agente representante do "capital variável" dispondo embora de 24 horas por dia, dedica no entanto «apenas» 10 horas por dia a actividades de «transformação» da Natureza ("virgem" ou "já parcialmente transformada").
Em rigor, a lógica do sistema acaba por ser a mesma, quer se trate de 10 horas por dia quer se trate de 5 ou 6 horas de trabalho por dia...
Um outro aspecto a considerar será a relação entre «trabalho necessário»«reprodução social») e «trabalho excedente» (aquele que PODE reverter para o processo de acumulação).
São estas as variáveis fundamentais da «camada geológica» (pouco ou nada visível) do sistema económico. A lógica daquilo que se passa a esse nível é determinante e condiciona tudo o mais que se possa passar nas «camadas superiores» (o subsistema dos preços, as instituições, as finanças, a governação...) do sistema económico global.
Num próximo e ultimo esclarecimento (para já...) espero indicar como tudo «isto» tem a ver - ou está implícito - no modelo aqui desenvolvido.