quarta-feira, 30 de maio de 2012

A metáfora do geógrafo imaginário…


Dizia Gunder Frank que não comparava as previsões dos economistas com as previsões da  astrologia porque isso seria um insulto para com os astrólogos.
Nestas coisas da análise e previsão económica, de facto, o caracter científico da «ciência» económica deixa muito a desejar. Mas também não exageremos, a maior parte dos economistas convencionais até são profissionais razoavelmente competentes e alguns até muito, mesmo muito, competentes. O problema é estarem no paradigma errado. Ou, se quisermos, no patamar errado de observação, a partir do qual acabam sempre por ter uma visão distorcida dos fenómenos económicos.
Imagine o leitor destas linhas um eminente geógrafo que soubesse tudo e mais alguma coisa sobre montanhas, colinas, vales e desfiladeiros, tudo sobre  rios e seus afluentes, lagos  lagunas, baías, golfos e enseadas.
E mais. Que soubesse também tudo sobre correntes marítimas, marés, ventos predominantes, relativa regularidade das chuvas e consequente erosão das montanhas e das costas marítimas. . Para esse nosso geógrafo imaginário, os vulcões seriam apenas montanhas de um tipo especial e que funcionavam como tubos de escape para o calor de um mal imaginado ou pouco adivinhado «centro da Terra».  Mais ainda; que soubesse e explicasse muito bem as práticas humanas de assentamentos e ocupação dos territórios, as cidades e as vilas, as estradas e os caminhos secundários, sobre o porquê da localização dos portos marítimos e fluviais assim como de vias férreas e aeroportos.
Mas agora imaginem também que esse nosso geógrafo pura e simplesmente nunca (mas nunca) tinha estudado geologia
Não fazia parte do curriculum e era mesmo matéria desconhecida. Nada se sabia sobre o que está por debaixo da superfície terrestre, mais ou menos visível. Assim sendo o nosso geógrafo imaginário nada poderia saber sobre placas tectónicas e deriva dos continentes.
Em consequência desse desconhecimento, quando acontecesse, como de vez em quando acontece, que uma das placas tectónicas se roçasse por uma outra placa tectónica e assim desse origem a um tremor de terra, o nosso geógrafo imaginário ficava logo «às aranhas» e sem ser capaz de explicar o fenómeno.
Pois é. Os nossos economistas convencionais – e com eles os nossos dirigentes políticos -  estão mais ou menos numa posição semelhante. Falta-lhes quase sempre a perspectiva  da continuada evolução histórica da sociedade capitalista e dos fenómenos que decorrem da lógica da sua dinâmica evolutiva. 

terça-feira, 29 de maio de 2012

O Regresso dos Capitais Financeiros

Vem hoje no Expresso «online» que
«Em pouco mais de dois anos, os investimentos portugueses em paraísos fiscais tiveram uma quebra drástica. As estatísticas do investimento de carteira divulgadas esta semana pelo Banco de Portugal revelam que entre janeiro de 2010 e março deste ano regressaram a casa 6,8 mil milhões de euros. Uma verba que representa quase metade do dinheiro investido nestas regiões deste 1996, ano em que começam os dados do Banco de Portugal» (João Silvestre, jornalista).
A coisa é intrigante...
Primeiro, aqueles capitais, saíram daqui - o que contribuiu (e muito) para a crise da dívida, ao «descapitalizar a «nossa» banca - e agora que que a crise está instalada e que estão cada vez mais elevados os juros a que o Estado se vai financiando, os mesmos ditos cujos capitais estão de volta...
Dá-se um rebuçado a quem adivinhar onde é que aqueles capitais financeiros estão a ser aplicados.
Não há pachorra.. E o zé povinho, na sua modorra, nem se vai dando conta do autêntico «golpe do baú» que é esta estória da crise da dívida, pois que é para «pagar esta dívida» («eles emprestaram, não emprestaram»?...) que nos roubaram a 13ª e 14ª mensalidades que nós lhes tínhamos confiado. 
Foi assim com a Argentina há mais de dez anos, já tinha sido assim com todas as outras crises de dívida soberana:
Os capitais saem, a banca de cada país fica com muito menos fundos, o Estado tem que se financiar «lá fora» e depois os mesmos capitais regressam para «financiar a dívida» que eles mesmos provocaram.
Não se adivinha porque razão havia de ser diferente com os patrióticos dos nossos capitalistas...