Este pessoal que nos «governa» («paus mandados» do sistema...) é menos cretino do que possa parecer. Comecemos com a história da inconstitucionalidade do roubo das 13ª e 14ª mensalidades contratadas com os funcionários públicos, assim como o roubo das 13ª e 14ª mensalidades entregues pelos reformados ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. Antigamente, quem se pagava por suas próprias mãos (foi o que mandou fazer o sr. ministro das finanças...) era preso.
Aparentemente, e de um ponto de vista do cumprimento das leis, perante a situação «gravosa», «catastrófica», de «iminente desastre nacional» (e outras tretas do estilo), se eles fossem competentes como governantes da «res publica deles», então faziam o trabalho de casa e decretavam uma nova tabela (ou novos escalões) de IRS, aumentando significativamente e de modo equivalente as receitas do Estado para compor o ramalhete do Orçamento (julgariam eles no seu raciocínio linear...).
Mas não.
Aparentemente, estavam com pressa (era uma emergência nacional!!!...) e serviram-se do dinheiro que estava «mais à mão»: o dinheiro dos funcionários públicos, dos pensionistas do Estado e dos reformados da Segurança Social.
Na verdade, ao tomarem esta medida, mostraram-se maquiavélicos quanto baste (também não exageremos nesses méritos de inteligência e perspicácia sobre estratégia política...).
De uma assentada desacreditaram a Segurança Social pública (não mexendo nos fundos de pensões privados - mas privados mesmo...) transmitindo a mensagem (até nem muito subliminar) de que «afinal não se pode confiar no Estado», «eles é que tinham razão, devia era ter posto os meus descontos num fundo de pensões privado»...
E, na mesma assentada, procuraram também aprofundar a já iniciada «campanha divisionista entre o "sector público" e o "sector privado"» tanto do seu gosto.
E agora, para porem a cereja no cimo do bolo (das tais papas e bolos com que vão enganando os tolos) vem toda uma legião de comentadores (muitos deles "papagaios e cassandras" de que falo noutro contexto...) falar da falta de equidade, das diferenças entre o «público» e o «privado» e de como seria injusto obrigar o «privado» a pagar ainda mais a crise que (pelos vistos...) foi causada pelo despesismo do Estado.
E só falam disso!!!
São ou não são espertos ?...
Tudo isto para só falarem do lado da «Despesa», quando o Orçamento do Estado tem necessariamente duas componentes: a Despesa e a Receita.
E como (dizem eles...) «já não se pode aumentar mais os impostos» (excepto o IVA, já que esse acaba por ser pago pela esmagadora maioria da população...), a única saída é «cortar nas despesas com o pessoal».
No meio de todo este barulho mediático, e com excepção dos partidos de Esquerda, ninguém parece lembrar-se de «tributar o Capital»...
Ainda gostava de ver uma polémica interessante (do tipo «Prós e Contras») em que aparecessem uns senhores economistas convencionais (tal como o nosso primeiro?...) a explicar que o Capital tem uma grande (enorme...) mobilidade transfronteiriça e que portanto não se pode tributar em demasia, se não «ele foge»... Talvez alguém se lembrasse de falar de uma taxa Tobin (para quem não sabe não consta que este senhor fosse suspeito de simpatias com o Socialismo...) e de assim penalizar (tornar mais caras...) as entradas e saídas de capitais de cada país, ao sabor das conveniências dos patrões das agências de notação e outros que tais...
E lá vão enganando os tolos (preferia o termo cretinos, mas não rima) mesmo sem papas e bolos.
ResponderEliminarGuilherme, a propósito deste teu indignado post só dizer que este corte dos subsidios (na despesa do Estado) resulta da imposição da troika de que só nos emprestam se cortarmos x% na despesa publica. E não aceitam que seja aumentado o irs de modo a ir buscar o dinheiro a toda a gente (quase toda...). Nem deixam os rapazes cá de casa escolher onde cortar, onde privatizar, onde liberalizar, está escrito no memorando (eu tinha vergonha de me chamar economista e aceitar isto).
ResponderEliminarOutra coisa é a taxa Tobin, tenho lido que a comissão europeia e alguns governos já estão a falar em introduzi-la... mas a receita é para os bancos se recapitalizarem, ou seja cobram e ficam com ela. Vamos parar sempre à mesma pergunta: a quem aproveita o crime?
Já agora mando-te um link para a tese do Eugenio Rosa que suponho deve ter bastante interesse, embora eu preferisse que alguem se debruçasse sobre o futuro - como viabilizar uma economia centralizada nos tempos que correm (http://resistir.info/e_rosa/doutoramento.html)
Manuel, tens razão! Para mim a questão tem (pelo menos) dois aspectos: (UM) a inconstitucionalidade do «corte dos subsídios» (quaisquer subsídios de «férias» e de «Natal» de quaisquer trabalhadores...) e (DOIS) enquanto que o corte dos «subsídios» aos funcionários públicos pode ser contabilizada como «despesa pública», o roubo das 14ª e 14ª fracções do rendimento anual dos reformados não tem nada a ver com «despesa pública»...
ResponderEliminarÉ claro que esta minudência pode parecer divisionismo mas é só para mostrar a incompetência técnica dos (des)governantes que temos. Mesmo colocando-nos no ponto de vista «deles», se tivessem feito o trabalho de casa em vez de «cortar à bruta porque estamos com pressa», talvez não tivessem agora que inventar novos e (se calhar) piores malabarismos fiscais para remendar o chumbo do Tribunal Constitucional.
Não sou economista e tenho pena, mas nunca aceitei que a espoliação a que estamos sujeitos seja conduzida por incompetentes. O mesmo processo, com as mesmas consequências, que faz cair sobre os trabalhadores de toda a Europa, esta "maldição" é algo de extremamente bem planeado, concebido por cérebros maquiavélicos mas inteligentes. Trata-se, quanto a mim, de um ajuste de contas de uma classe, que não teve a força suficiente para travar as reivindicações feitas e impostas pelo mundo do trabalho, e que após a implosão da União Soviética se sentiu de mãos livres.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
EliminarNão deixa de ter razão... A coisa até está razoavelmente documentada. Estou a pensar numa mensagem da Tatcher ao Reagan (que não estava para aí virado...) a convencê-lo a ir com ela a Monterrey (o Reagan dizia que "aquilo" nem sequer valia a pena...) para «enterrarem de uma vez por todas» as pretensões «românticas» (digo eu...) de uma Nova Ordem Económica Internacional, proposta por uma Comissão Internacional de iniciativa das Nações Unidas, e a que presidia Willy Brandt. Depois da pré-anunciada «derrocada do socialismo real», era preciso preparar a derrocada do «Estado Social». Depois de «derrotar o marxismo» era preciso «acabar de vez» com as derivas socialistas do «keynesianismo de esquerda».
EliminarSem entrar - de todo - nas teorias da conspiração, há um livro muito interessante sobre todos estes temas de autoria um historiador britânico, Richard Cockett: «THINKING THE UNTHINKABLE - Think Tanks and the Economic Counter Revolution»