Ainda
ontem ouvi mais um debate em que intervinham além da sra. «pivô» uma
outra senhora entendida em coisas de «segurança social» e um senhor
mais avinagrado e aparentemente muito em entendido em coisas de má
governação do estilo «está tudo errado» ou
«estes tipos só fazem asneiras»... Em alguns aspectos não
deixa de ter razão.
Mas
ontem – pelo que me foi dado entender - a conversa era sobre a
sustentabilidade do actual regime de pensões e reformas. Ou seja, a
sustentabilidade da nossa Segurança Social.
Falou-se
de Lord Beveridge (um dos pais fundadores do moderno Estado
Previdência) assim como de Bismarck e das suas ideias sobre
segurança social para os trabalhadores.
Vieram
ao de cima números e "factos" como «há 320.000
beneficiários da seguranças social que nunca contribuíram»...
Coisa horrível, claro, dirão as mentes bem pensantes. Veio também
o alerta para o perigo – para a sustentabilidade financeira da
segurança social – desse «desastre» universal que é o facto de
as pessoas cada vez viverem mais tempo... Essa pessoas («uns
malandros», «golpistas»... imagino eu claro, ninguém falou
assim...) não se dão conta de que os actuários (são uns senhores
especialistas em cálculo de probabilidades e que trabalham para as
companhias de seguros...) quando calculavam as pensões de reforma
pensavam que as pessoas em média morriam dois ou três anos depois
da reforma... Agora - «malandros» - ficam vivos até aos 80... Ou
seja, mais uns 10 a 15 anos do que o previsto.
«E
não há dinheiro para pagar isso tudo».
Eu
gostava mesmo era que as pessoas – os «economistas de aviário1»
e outros «fazedores de opinião» - percebessem do que é que se está
a falar quando se fala em «SISTEMA».
Já
não digo para irem estudar a «Teoria Geral dos Sistemas» de Ludwig
von Bertalanffy... Que ao menos entendessem que um sistema é um
conjunto integrado de partes componentes, cada um desses componentes
com determinados orgãos e funções convergindo nas tarefas para
alcançar um qualquer determinado objectivo (do dito cujo
"sistema"...).
Que
percebessem que há «sistemas abertos» e «sistemas fechados» e
«sistemas "assim-assim"» (ou seja com determinados graus
de porosidade...).
E que o «sistema capitalista mundial» há muito que deixou de ser um sistema aberto...
E que percebessem que se algum das partes componentes deixar de executar as suas funções sistémicas, a coisa dá inevitavelmente «para o torto»...
E que o «sistema capitalista mundial» há muito que deixou de ser um sistema aberto...
E que percebessem que se algum das partes componentes deixar de executar as suas funções sistémicas, a coisa dá inevitavelmente «para o torto»...
Talvez
assim esses «economistas de aviário» (e outros fazedores de
opinião encartados) entendessem a expressão «os
reformados – mesmo não fazendo rigorosamente mais nada para além de
"descansarem" - desempenham uma insubstituível função
sistémica: a função de consumirem».
Até
o «pároco» Thomas Malthus entendia isso da vantagem (ele dizia
mesmo «necessidade») de haver uma classe "parasita" cuja
função sistémica seja apenas a de consumir...
A
diferença entre o referido «pároco» e pensadores modernos bem
mais progressistas é que Malthus defendia a utilidade (a necessidade) sistémica da
existência de classes (verdadeiramente) parasitas como eram a
aristocracia latifundiária e a Igreja do seu tempo2,
enquanto que o que agora se defende é o direito elementar (de
reformados e pensionistas) a serem reconhecidos como socialmente
úteis e, sobretudo, a serem pagos hoje também por aquilo que contribuiram
ao longo de décadas.
No
que diz respeito aos tais «320.000
que nunca contribuíram», o
mínimo que se pode dizer é que pessoas com exposição mediática
deviam ter alguma vergonha na cara para assim meterem no mesmo saco,
por um lado, muitos exemplos de contratos leoninos por parte de
arrivistas e alguns políticos de carreira que, saltitando de empresa
pública em instituto ou fundação pública, vão garantindo para si chorudas
pensões vitalícias e, por outro lado, as poucas centenas de milhar
de trabalhadores (quase sempre rurais) que ainda sobrevivem dos
tempos em que não havia em Portugal uma política generalizada de
«segurança social»...
A
pergunta que esses «fazedores de opinião» deviam fazer é antes a
de saber se esses trabalhadores e trabalhadoras, do campo e do
trabalho doméstico, contribuiram ou não para o processo global –
sistémico
– de acumulação capitalista, nesta fracção nacional do
«sistema» a que chamamos Portugal.
Não há pachorra...
Não há pachorra...
1Perante
o bombardeamento ideológico e a barragem desfinformadora com que
somos todos confrontados, tiro o chapéu – bato palmas e preito de
admiração – a todos aqueles economistas que conseguiram «dar a
volta» por cima e quebrar as amarras sufocantes do pensamento único
imposto aos estudantes de teoria ou análise económica...
2A
esse respeito,
a sua polémica com David Ricardo ficou nos anais do pensamento
económico; revisão de matéria que se recomenda a todos os nossos
«economistas de aviário»... Aquilo não é só para «empinar»;
é sobretudo para perceber e entender em que medida se aplica aos
tempos que vivemos
Meu caro
ResponderEliminarAssisti a uma parte do referido programa, depressa desliguei, pois como é habitual com aquela gente não se aprende nada, é conversa para analfabetos.
O texto que publicou sobre esse grupo de opinadores é claramente apropriado.
Fez bem... Eu, às vezes, forço-me a ouvir aquela tralha toda só quase por «obrigação profissional»...
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