Somos
alguns milhões – só em Portugal – a sermos esbulhados, por meio
de impostos e contribuições cada vez mais exorbitantes, para
pagarmos uma dívida pública «externa» que não contraímos.
Alguns papagaios, comentadores e «economistas» de aviário
dizem-nos também que «não há alternativa», temos mesmo que pagar
(«eles emprestaram ou não emprestaram»?...).
Vamos
por uns minutos imaginar que esta dívida pública (esta e as outras,
dos outros páises todos...) é uma dívida legítima. Que até
resulta de empréstimos feitos por entidades que tinham acumulado
esses capitais financeiros com toda a legitimidade e, sobretudo, sem
terem fugido ao pagamento dos impostos sobre os lucros ao longo de
várias décadas. Mesmo assim, nessas hipotéticas circunstâncias de
legitimidade, o que me parece mais aberrante (estupidamente
aberrante...) é que isso, o pagamento da dívida (se por milagre
alguma vez acontecesse...) não serve para nada...
Ou seja, aquele dinheiro todo «que nos vai sendo emprestado e que nós vamos pagando» não vai ter uma qualquer outra aplicação que não seja voltar a ser emprestado. Acumulando juros e "capital emprestado".
Quando muito na compra («investimento» dizem eles...) de coisas que já existem...
Ou seja, aquele dinheiro todo «que nos vai sendo emprestado e que nós vamos pagando» não vai ter uma qualquer outra aplicação que não seja voltar a ser emprestado. Acumulando juros e "capital emprestado".
Quando muito na compra («investimento» dizem eles...) de coisas que já existem...
Per secula
seculorum... Se entretanto os povos não se revoltarem, claro...
Acontece
que existe no sistema capitalista um característica muito peculiar e
que eu designo por «esgotamento progressivo de oportunidades
de investimento». Investimento lucrativo, claro. Não é
difícil demonstrar a existência dessa característica, mas isso não
cabe agora aqui. Em todo o caso essa demonstração está feita e
disponível para quem estiver interessado.
Em
consequência desse esgotamento progressivo das oportunidades de
investimento, os donos e gestores de todo aquele capital financeirto
procuram naturalmente aplicações alternativas. Vamos imaginar que
na busca de aplicações financeiras rentáveis conseguem todos os
seus objectivos; ou seja a obtenção de oportunidades de aplicação
rentável em coisas ou actividades úteis e necessárias à sociedade
e que sejam susceptíveis de «compra e venda» (os mercados, sempre
os mercados....).
Como
vão assinalando os observadores mais atentos, aquelas «coisas ou
actividades úteis e necessárias à sociedade» que constituem
aquelas oportunidades de investimento e que estão assim «à mão de
semear», são a privatização de tudo e mais alguma coisa que
compete a um Estado moderno, progressista e com um mínimo de
preocupação por tudo quanto é social.
Vamos
pois imaginar que eles conseguem privatizar todos os ensinos públicos
e todos os serviços nacionais de saúde e que conseguem também
privatizar toda a distribuição de água (um monopólio natural por
execelência...). Acrescentemos a isso a privatização de portos e
transportes (vias férreas e todo o tipo de estradas) e ainda (porque
não, já agora...) a privatização da segurança interna e da
Justiça.
Vamos
então imaginar que com todas essas privatizações, e através da
manipulação de preços, os donos do capital financeiro, conseguem
obter taxas de lucro melhores do que as «meras« aplicações
financeiras. Nessa altura, em vez de nos retirarem «poder de compra»
por via dos impostos para «pagarmos a dívida», vão-nos retirar
«poder de compra» por via dos preços – que teríamos que pagar –
por aqueles serviços que antes eram prestados de modo
tendencialmente gratuito pelo Estado.
E
depois?...
Nesse
cenário de pesadelo absurdo de onde viria o «poder de compra»
necessário e suficiente para escoar a oferta daqueles serviços
todos?...
É
neste contexto que se coloca a questão da aberração do pagamento
indefinido de uma dívida absurda. Se os senhores da «troika» e
seus mandatários locais (aqui ou na Grécia, por exemplo) tivessem
um pingo de bom senso, talvez fosse possível perguntar-lhes «o que
vão fazer com o dinheiro dos pagamentos das dívidas públicas»...
Para
onde vão todos esses fundos financeiros?... Para que servem?... Em
que vão ser aplicados (ou «investidos»)?
Muito
provavelmente responderiam que «não temos nada
a ver com isso», o dinheiro é deles (ou melhor dos seus
patrões...) e eles, os patrões, é que têm que decidir o que
querem fazer com os dinheiros que alguém fabricou, sendo que este
«fabrico de dinheiro» resultou a partir de lucros empresariais
minimanente legitimos (mas sobretudo engordados com o não pagamento de
impostos), ou a partir da fabricação de dinheiro ou capital
fictício resultante da criação de empréstimos bancários
virtuais...
Mas
a resposta mais prosaica seria muito provavelmente a de que esses
fundos financeiros todos serão de novo aplicados na compra de mais
dívida pública...
É
evidente que o Planeta está cheio de oportunidades para fazer
coisas, úteis e necessárias; desde a regeneração do meio ambiente
(o mar e as florestas...) até à renovação de estruturas físicas
e desenvolvimento de novas tecnologias de fontes de energia e de
aproveitamento «verde» das coisas da Natureza.
Só que isso, tudo
isso, cai cada vez mais no âmbito da coisa pública...
Não
constitui oportunidade de investimento que tenha o lucro como
objectivo imediato.
Ou
seja, o sistema parece ter entrado num beco sem saída.
Mas «saídas»
há: o caos (e a barbárie...) ou o Socialismo.
Divulgar por todos os meios estas verdades elementares que são escondidas, faz parte da luta que estamos travando.
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