quinta-feira, 15 de março de 2012

A Dinâmica (recente) do Capitalismo Esqueleto Analítico em 20 parágrafos


1. O sistema capitalista precisa de estar sempre a crescer e a acumular, sempre em busca de novos mercados e em expansão.
2. O lucro é aquilo que funciona como motor e «cenoura» da dinâmica do sistema. Por outro lado, aquilo que funciona como acelerador (ou ainda como travão e caixa de velocidades) do sistema é a taxa de lucro...
3. Acontece também (facto historicamente comprovado) que não há um condutor ou coordenador da dinâmica global sistémica e que a taxa de lucro sobe, estagna e desce.
4. Entretanto… à escala do sistema global, o lucro da actividade empresarial produtiva é suposto repartir-se entre Rendas (a pagar aos «senhorios» ou proprietários do espaço físico), Juros (a pagar aos Bancos ou depositários e controladores do capital financeiro) e Impostos a pagar ao Estado (ou entidade responsável pela administração da «coisa pública», sem a qual não há sistema que funcione.
5. Quando a taxa de lucro estagna e começa a descer, reduz-se o grau de atracção de novos investimentos e é preciso encontrar saídas para o valor excedente potencial dando origem à sua conversão em excedentes financeiros.
6. Ainda quando a taxa de lucro começa a descer, e para manter incólume (ou se possível aumentar) a massa dos lucros, os agentes do Capital procuram naturalmente reduzir as transferências para os «senhorios», para os bancos e para o Estado…
7. Como os agentes do Capital se combinam facilmente com os «senhorios» e com os «bancos», os «custos» dessa redução acabam sempre por sobrar para a Res Pública...
8. Daí veio a resultar uma exigência de redução nas taxas dos impostos tipo IRC (aplicáveis às empresas) e de tipo IRS (aplicáveis aos donos e agentes do Capital), tendo daí vindo a resultar uma natural concorrência fiscal entre os Estados.
9. Entretanto… Os agentes e donos do Capital procuraram e conseguiram a manipulação das normas de contabilidade empresarial internacional de modo a poderem deixar de declarar em cada Estado o valor real das suas actividades aí localizadas.
10. Procuraram e conseguiram também a flexibilização dos padrões e enquadramento legal da praxis de auditoria empresarial, de modo a que fossem relaxadas as penalidades por erros (mal ou bem intencionados) nas auditorias às contas das grandes empresas multinacionais.
11. Os donos e agentes do capital financeiro procuraram e conseguiram a liberalização (desregulada) dos movimentos de capitais financeiros, de que o «bigger bang» da explosão dos «Euromarkets» é o mais claro exemplo.
12. Entretanto… Da continuada evolução científica e tecnológica têm vindo a resultar continuados ganhos de produtividade dos quais também vêem a resultar «compressão dos salários» e «desemprego sistémico»... Logo, uma redução do poder de compra agregado e à escala global do sistema...
13. Se a lógica intrínseca do sistema conduz a uma redução do poder de compra agregado (de modo desproporcionado para o volume de bens e serviços que vão sendo produzidos) há que facilitar o acesso ao crédito.
14. Dessa necessidade de facilitação de acesso ao crédito veio a resultar uma dupla bifurcação nas taxas de juro (o preço do dinheiro). Por um lado, tivemos (e temos) a redução sistémica das taxas de juro dos bancos centrais para encorajar o investimento por parte das empresas (como se elas disso precisassem ou fosse esse – o supostamente elevado «custo do dinheiro» - aquilo de impede ou desencoraja o investimento. Por outro lado tivemos e temos uma «orgia» do crédito ao consumo, fácil mas caro.
15. Para essa «orgia» do crédito ao consumo foi necessária a abolição das «Leis da Usura» (leis essas que vigoravam, desde tempos imemoriais, na prática socialmente aceite em todos os povos, e transcrita nas leis de muitos Estados); algo que foi conseguido através da permissão de taxas de juro sem limitações ou controle por parte das autoridades de regulação. Verificou-se assim um aumento exponencial do consumo a crédito e da dívida privada.
16. Entretanto, da redução das taxas de impostos referidas mais atrás, veio naturalmente a resultar um aumento do défice público e consequente aumento da dívida pública.
17. Na medida em que «com uma corda não se empurra uma carroça», tem-se vindo também a verificar uma inoperância da redução das taxas de juro para o investimento, em conseguir reanimar a economia e pô-la de novo a crescer.
18. No caso específico da zona Euro, a «Banca» tem-se aproveitado das taxas reduzidas do BCE para se enriquecer através do «financiamento» da dívida pública dos países mais afectados.
19. Das crises de dívida pública tem resultado um aumento da «fuga de capitais» em busca de refúgio fiscal, sendo que uma parte desses capitais (até então «parados») acaba por reentrar nos países em crise de dívida sob a forma de compra de «títulos do tesouro».
20. Como nada disso reanima a economia real, daí tem resultado uma espiral recessiva e consequente propensão para a instabilidade, o caos e a guerra...

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