sábado, 16 de junho de 2012

Ainda (teimosia ou persistência minha...) a taxa de lucro

Considerando que o lucro é o grande incentivo do investimento (e da criação de emprego, dizem eles...) esta coisa do comportamento da taxa de lucro deveria ser mais discutida pelos meios de comunicação.
Mas infelizmente parece que é tema demasiado árido para ser debatido nos grandes meios de comunicação... O futebol ou os dislates de alguns políticos atraem muito mais atenção. Hoje ocorreu-me «discorrer» um pouco sobre o tema.
Aqui vai.

A expressão «queda tendencial da taxa de lucro» (ou a sua equivalente «tendência decrescente da taxa de lucro») contem as sementes de um grande (enorme...) mal entendido histórico. Estou a referir-me ao facto de que uma tal expressão parece sugerir que a taxa de lucro é algo que tenderá sempre a cair, descer ou diminuir. Um exemplo desse mal entendido será o caso do chamado «Teorema de Okishio».
Em termos muito simplistas, este teorema demonstra que – ao contrário do que era suposto ter afirnado Karl Marx – sempre que haja a introdução de uma nova técnica de produção, a consequência para o sistema será antes uma subida tendencial da taxa de lucro.
Ou seja, enquanto que Marx teria afirmado que, com o progresso tecnológico, havia no sistema uma tendência para a queda da taxa de lucro, Okishio viria a demonstrar em 1961 que (antes pelo contrário) o que haveria no sistema será uma tendência para a subida da taxa de lucro. Foram muitos os marxistas que pura e simplesmente abandonaram a questão e passaram a dizer que afinal a queda tendencial da taxa de lucro seria apenas uma hipótese potencial, lembrando as várias contra tendências já assinaladas por Marx.
A ideia de pensar dialécticamente e de abordar o problema a partir da totalidade do sistema parece não ter ocorrido a esses marxistas ou aos seus contraditores.
Neste contexto, pensar dialécticamente quer dizer «considerar que um fenómeno emergente – para o caso, a taxa de lucro – pode comportar-se de determinada maneira numa fase da sua evolução e que pode depois numa outra fase dessa mesma evolução comportar-se de modo distinto e oposto».
Por outras palavras, o que é verdade hoje pode não ser verdade amanhã...
Neste contexto, em vez de «lei da queda tendencial da taxa de lucro» (ou do seu oposto) seria talvez mais adequado falar antes de «lei da oscilação recorrente da taxa de lucro». Ou seja, numas fases da evolução do sistema a taxa de lucro tem tendência para subir, noutras fases (e em resultado da lógica do sistema) a taxa de lucro tem antes tendência para descer.
É com isso que me dá agora para andar mais entretido... 

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