segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Para uma Tertúlia nos 40 anos do ISCTE


Texto de «pontapé de saída» para uma Tertúlia realizada em 20 de Setembro no Clube ISCTE
(a propósito dos 40 anos de existência do ISCTE, agora Instituto Universitário de Lisboa)

Cada um de nós, cada um na sua especialidade, está provavelmente certo nas suas asserções sobre o grau de veracidade daquilo que afirma sobre o segmento ou perspectiva da realidade a cujo estudo se dedica.  O problema é que, enquanto cada um estuda o seu ramo de conhecimento, muito poucos se dedicam ao estudo do sistema global, planetário, como um todo.  Por exemplo, embora hoje não haja mais quaisquer dúvidas sobre o carácter global, de âmbito planetário, do sistema capitalista, os economistas convencionais continuam a pensar em termos de economias nacionais. Estão, permanentemente, na chamada «falácia da composição».
Por outro lado, o factor determinante da actividade (da dinâmica…) do sistema capitalista é a taxa de lucro. Seria importante que todos e cada um dos economistas convencionais estudasse o comportamento evolutivo dessa taxa de lucro à escala agregada, do sistema global como um todo. Se estavam à espera disso, bem podem esperar sentados… Já Adam Smith e mais recentemente John Maynard Keynes constataram o fenómeno recorrente da queda tendencial da taxa de lucro. Associando essa queda tendencial à emergência de crises sistémicas. Isto digo eu agora. Karl Marx explicou, ainda que de forma (parece que) insatisfatória (dizem alguns…), o porquê dessa queda tendencial da taxa de lucro. A esse respeito, a polémica tem sido mais do que muita. Até que um economista matemático japonês, de seu nome Nobuo Okishio terá encerrado definitivamente a questão em 1961 provando que seria exactamente ao contrário. É o que dizem…
E vem agora um ilustre e desconhecido sociólogo, neste jardim da Europa à beira mar plantado, explicar e provar (pode ser que sim…) que tanto Karl Marx como Nobuo Okishio, tinham ambos razão, embora dizendo, um e outro, exactamente o contrário…
E digo mais: essa oscilação recorrente da taxa de lucro é o que vai explicando a emergência recorrente de crises sistémicas – quando a taxa de lucro se aproxima do zero (ou melhor, começa perigosamente a descer) - e em que o sistema tem como que a necessidade de fazer uma espécie de purga periódica da capacidade produtiva existente, desvalorizando (ou literalmente destruindo) parcelas significativas do capital constante e em particular do capital fixo já existente. Entretanto, historicamente, quando a taxa de lucro se aproxima do zero (repetindo: «ou melhor começa perigosamente a descer»), o sistema tem-se socorrido de cosméticas financeiras, em particular o crédito ao consumo, para adiar a inevitável necessidade sistémica de recurso à desvalorização ou mesmo destruição… 
A onda da crise da dívida que agora chegou ao Sul da Europa teve as suas raízes há uns 40 anos atrás, quando, a nível global, começou a descer a taxa de lucro sistémico. Até aqui pensávamos que era só com eles, com os países do Sul, dentro de mais algum tempo será também com a França e com a Alemanha.
Entretanto, a pergunta que, pelos vistos, ninguém faz, é: de onde vem todo aquele dinheiro que os chamados «mercados» têm para nos emprestar?...
São milhões de milhões de dólares, euros e eurodólares…
Como se espera(va) explicar nesta tertúlia esses milhões de milhões de dólares, euros e eurodólares vêm de duas fontes principais: 
(a) o poder de compra acumulado (e não utilizado) pelas empresas de dimensão gigantesca que deixaram de pagar os impostos que antes pagavam (incluo aí os executivos e outros «artistas» milionariamente pagos) e 
(b) o capital fictício criado pela banca paralela (ou sombra) pouco ou nada regulada e que se tem permitido toda a espécie de alavancagens para o pingue pongue das trocas e baldrocas de activos financeiros… 

1 comentário:

  1. Perguntas que ninguém faz porque incómodas mas que devemos colocar sempre nas nossas intervenções.

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