sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A Propósito da Descida dos Juros

O total dos capitais financeiros escondidos nos refúgios fiscais já tem sido estimado – num cálculo prudente e por várias entidades – em qualquer coisa como 20 a 30 milhões de milhões de dólares. O PIB de um país como Portugal é de aproximadamente 250 mil milhões de dólares. De todo aquele capital financeiro, muito é «capital fictício» (também criado ardilosamente pelos executivos dos bancos privados por esse mundo fora...), mas não deixa de representar poder de compra e eventuais títulos de propriedade de coisas mais palpáveis do que o dinheiro...
Ou seja, o dinheiro todo que está escondido nos tais refúgios fiscais (desde a City of London, às diversas ilhas tropicais, passando por Hong-Kong e outros locais menos exóticos, como o Luxemburgo ou a Suíça...) é mais ou menos equivalente a 80 a 120 vezes o PIB de Portugal.
Ora acontece que todo aquele capital financeiro precisa de ser aplicado... Os seus proprietários e respectivos gestores não gostam de ver todo aquele dinheiro parado...
Por outro lado as grandes e muito grandes empresas continuam a declarar lucros (algumas um pouco menos do que antes, mas lucros...) e portanto a acumular excedentes. Esses excedentes, nas mãos dos respectivos gestores e executivos são em parte para aplicar em investimentos e projectos que «já vêm de trás...»; ou seja «estavam previstos e ou planeados a prazo»...
Por outras palavras, muitas das grandes e muito grandes empresas não precisam para nada de «dinheiro adicional». Quando muito precisam que os bancos – alguns bancos – as «ajudem» na gestão de carteiras de títulos, processos de aglomeração empresarial e de fluxos financeiros.
No que diz respeito às colossais fortunas (muitas delas confiadas a «fundos de investimento) que estão escondidas nos tais refúgios fiscais, essas sempre continuam e continuarão à procura de «aplicação» minimamente rentável. Mas, como continuam a escassear as oportunidades para «aplicar» esse dinheiro em investimentos produtivos (na chamada economia real...), então, o mais natural é que pensem, «do mal o menos... Vamos lá emprestar algum desse dinheiro a países como Portugal». Se ainda por cima houver umas entidades com o aval de um país com excedentes comerciais (a Alemanha, o BCE e o FEEF...) então «vamos a isso»...
Nessas circunstâncias, aumentando a oferta de dinheiro para emprestar, o mais natural é que o seu preço (os juros...) desçam. E entretanto, no meio dessa onda de âmbito global, e como é natural, os espertos que nos (des)governam aproveitam logo para dizer qualquer coisa como «é porque nós somos bem comportados que eles nos emprestam dinheiro a juros mais reduzidos»... Presunção e água benta...

3 comentários:

  1. É importante fazer circular estes esclarecimentos.

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  2. No meio disto tudo, o mais patéticamente dramático e absurdo é que os milhares de milhões de euros que todos nós vamos tendo que ir pagando - até quando?... - não vão servir para mais nada senão para aumentar o tal «pote dourado» de capital financeiro e cada vez mais disfuncional... Agora vão lá explicar isso aos SENHORES deste mundo...

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  3. Tudo isso se resolvia se seguíssemos a sugestão de um camarada da extinta Reforma Agrária: «o dinheiro devia ser como os alhos que com o tempo acabam por chochar».

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