domingo, 29 de dezembro de 2013

A Propósito da Troika e de Keynes

A historiadora Raquela Varela publicou recentemente no blogue «5 Dias Net» http://blog.5dias.net/ uma mensagem sob o título «A Troika não erra, Keynes sim».
É interessante ler, mas sinto que será necessário chamar a atenção para algumas discrepâncias...
A resposta que se me oferece é esta:
«Em primerio lugar esclareço que não tenho propriamente a ideia de «defender Keynes»… 
Mas factos são factos e a história das ideias é a que é.
Keynes «limitou-se» a fazer uma síntese de muitas ideias que já andavam no ar. Kalecki elaborou antes dele uma teoria em tudo similar, mas como era Polaco, não teve a repercussão que teve Keynes. Hitler fez de facto uma política «keynesiana» “avant la lettre” e isso terá contribuído para atribuir ao «keynesianismo» a ideia de que o «militarismo» (a produção e as despesas de um complexo militar-industrial) são uma aplicação das ideias de Keynes, ele mesmo. Não são.
Keynes era simpatizante dos Fabianos - uma associação de adeptos de uma evolução “pacifica” para o socialismo, através de uma espécie de “friendly persuasion”. 
A esse respeito, ainda em muito jovem, lembro-me de um livro norte-americano que tinha como subtítulo «A Royal Road do Socialism»…
Resumindo «até à quinta casa», a política keynesiana consistirá em pôr o Estado a tomar a iniciativa de se substituir aos “privados” na função de investimento produtivo. Isso só deverá ter que acontecer (Keynes, dixit…) quando, e se, os “privados” não estiverem para aí virados. Isso – de os “privados” não estarem para aí virados – acontece por causa do «esgotamento progressivo (e relativamente a um período anterior) de oportunidades de investimento» (tese pessoal deste correspondente…) em resultado de uma famigerada queda tendencial da taxa de lucro; a qual tem vindo “ao de cima” de forma recorrente ao longo dos três ou quatro séculos que levamos de capitalismo.
As saídas – para esse esgotamento progressivo das oportunidades de investimento – têm sido a expansão colonial (e o imperialismo) e as guerras de destruição. E também (uma coisa “desleixada” por muitos analistas) a especulação financeira.
Hoje somos chegados a uma espécie de beco sem saída.
Não há mais «expansão colonial» (com a guerra dos Boéres o sistema-mundo passou de “sistema aberto” a “sistema fechado”) e as guerras, e
mbora continuem a ser de destruição, deixaram de “dar vazão” aos milhões de desempregados.
Estamos em plena especulaçãoi financeira!!!
Finalmente, na minha opinião, as políticas de Keynes – nos anos “gloriosos” da reconstrução até 1973/1974?…) – falharam porque “eles” (os adeptos de Hayek & Cª – e seus mandatários, Tatcher, Reagan e etc…) perceberam perfeitamente qual o rumo que o sistema estava a seguir… 
É ler o livro de Keynes «Economic Possibilities for Our Grandchildren»…
Um colega meu na IBM Zâmbia – jovem conservador britânico – referiu-se um dia a Keynes como «esse marxista encapotado»… Eu não iria tão longe, mas havia alguma razão para isso.

Acrescento ainda duas outras reflexões
Joan Robinson. amiga e “aluna” de Keynes, sendo uma «keynesiana de esquerda» é também usualmente considerada uma das maiores economistas do século XX. Alguns dos seus biógrafos atribuem parte da «revolução chinesa» de Deng Xiaoping à influência das visitas à China por parte de Joan Robinson e suas reuniões com os dirigentes chineses de então. A esse respeito veja-se o livro de 1975 «Economic Management in China».
Entretanto, não creio que Keynes achasse «que o melhor para a crise alemã era imprimir dinheiro». O que ele achava era que o montante das indemnizações – para ele exorbitante e desproporcionado – iria forçar os governantes alemães a desvalorizar a sua própria moeda.
De resto a Raquel tem razão na sua opinião de que «isto não vai com eurobonds”…
Já a «Taxa Tobin» (ou algo assim…) seria uma forma de REDUZIR a massa monetária que por aí anda em busca de aplicações financeiras (a especulação, sempre a especulação...). Ou seja, uma «taxa Tobin» seria um passo certo na direcção certa. E quanto mais “radical” mais efeitos positivos poderia ter.

4 comentários:

  1. Sábias reflexões. Boas Festas, apesar do quadro sombrio que nos continua a tolher a esperança. silva Alves

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  2. A senhora Raquel não tem perna para os passos que dá e por vezes até a honestidade intelectual claudica. Não publica os meus comentários, por exemplo.

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  3. "Pinta-me" que há um fundamental não explicitado que tem a ver com a isustentabilidade (termodinâmica) da economia de crescimento (já agora, percebi que a energia na economia se mede em dinheiro mas não é o dinheiro - a natureza fundamental desta coisa continua a ser um mistério para mim). A pirâmide social tem de ser mantida pelos que estão no topo (já expliquei que se trata da resposta para a sobrevivência à catástrofe) e, como isto não cresce indefinidamente, só à custa dos que estão por baixo. O resto é ecologia sócio-económica obedecendo a esta "lei" da limitação fundamental (termodinâmica / energética) da economia que, tendo uma constante de tempo de séculos, custa a perceber.

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  4. Entretanto, as respostas "sustentáveis" devem ter em conta esta limitação, e a ideia da taxa Tobin pode ser uma dessas respostas. Outras devem ir ao encontro da eliminação da distância ao poder (Hofsted), da transparência. A Justiça, cá e no contexto global, é instrumental para isto. A rotação de quem está no Estado (poder eleito e poderes nomeados) também.

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