quinta-feira, 9 de maio de 2013

A PROPÓSITO DE ALGUNS COMENTÁRIOS - 2

(continuação...)
Ao longo dos milénios, desde tempos imemoriais, todos os grupos humanos sempre tiveram a possibilidade – ou a capacidade – para produzir mais do que o necessário para a sua própria reprodução como espécie biológica.
Podemos mesmo dizer que a humanidade é a única espécie biológica que tem essa capacidade. Todas as outras espécies limitam-se a reproduzir-se enquanto tal. De certa forma, todas trabalham. Mas só a humanidade realiza «trabalho excedente».
No caso das muitas espécies animais todas elas fazem «trabalho» no sentido de que aplicam a sua força ou energia na transformação (ou deslocação) de matéria. No caso dos herbívoros, na busa de vegetais apropriados à sua alimentação. No caso de carnívoros, na caça de herbívoros. Em todos os casos na procura e/ou construção «pré-programada» de ninhos, covis ou outros refúgios.
No caso da esécie humana, no entanto essa aplicação de trabalho (ou energia) na transformação (ou deslocação) de matéria segue-se a uma resolução e acaba sempre por ter objectivos ou finalidades que ultrapassam a mera reprodução.
Ao longo dos milénios alguns grupos humanos, no entanto, têm-se limitado a «gosar a vida», trabalhando apenas o suficiente para se reproduzirem enquanto grupo social, dedicando o resto do tempo actividades conscientemente culturais de recreio e lazer. Mas a grande maioria dos grupos cedo começou a acumular. Desde a China e Japão, até às Américas, passando pela Índia, Indonésia, «Médio Oriente, Egipto, Etiópia e resto de África, são hoje ainda conhecidas enormes obras de engenharia civil que testemunham essa capacidade de produção de excedentes. Estou não só a referir-me a coisas como pirâmides e palácios e templos, mas também a sistemas de irrigação e de arroteamento e demarcação de terras. O resultado natural dessas manifestações do trabalho excedente de muitas gerações, designa-se então por «acumulação».
Os conceitos aqui a reter, para já, são as noções de «trabalho necessário» (à reprodução de cada grupo social), «trabalho excedente» (para além da mera reprodução) e «acumulação».
 (continua)

1 comentário:

  1. É muito importante este diálogo entre os que escrevem e os que lêem. Ambos aprendem.

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