domingo, 28 de abril de 2013

Apontamento sobre os contratos «SWAP»

Estou aqui a tentar perceber qual a racionalidade ou lógica de gestão empresarial que terá levado os senhores gestores das empresas de transportes públicos a assinar contratos de troca de risco relativamente aos juros a pagar pelos empréstimos de que precisavam para as operações daquelas nossas empresas.
Dizem alguns analistas - designadamente o do jornal «PÚBLICO» de hoje - que os contratos de troca até podem ser muito úteis.
Duvido...
E os resultados estão à vista.
Se pensarmos bem nisso deviam era ser muito estritamente regulados. E na ausência de uma regulação eficaz e rigorosa, deviam mesmo ser proíbidos. Desde logo porque legitimam a ideia de que há uns senhores - na banca - que se podem constituir numa «casta de esclarecidos» (uma espécie de «insiders» privilegiados) porque sabem mais do que todos os outros sobre a evolução futura das taxas de juro ou das taxas de câmbio ou das subidas e descidas dos preços disto e daquilo... Ou seja, os gestores responsáveis pela gestão financeira são supostos ser uns «tadinhos» menos competentes e que precisam da assessoria técnica por parte daqueles «insiders».
Para não dizer que fica também legitimada a ideia peregrina de que «há honra entre os ladrões» do estilo «ou há moralidade ou comem todos». De facto, pelos vistos, «eles vão comendo tudo e todos» e o que querem mesmo é que não haja supervisão que impeça as suas golpadas.
De certa forma era isso mesmo – uma supervisão e regulamentação rigorosa e eficaz aquilo porque se bateu a sra. Brooksley Born quando era presidente da «CFTC – Commodity Futures Trading Commission». 
Muito natural e significativamente foi derrotada pelos defensores da «falta de transparência», a qual lhes permite continuar com estas golpadas em todo o mundo.
Em rigor, os senhores defensores do paradigma neoclássico (que no plano ideológico sustenta a praxis do neoliberalismo) deviam ser os primeiros a procurar regulamentar com todo o rigor a transparência nesse tipo de negociatas justamente com base nos pressupostos da igualdade no «acesso à informação».
Mas, em todo o caso, falar aqui de paradigma é algo de abusivo. O conceito de «paradigma» implica a ideia filosófica de conhecimento ciêntífico; e isso é algo de que a escola neoclássica está cada vez mais longe. Uma ideologia matemáticamente pura, como não me canso de repetir citando o Prof. Alan Freeman.
Seja como for, cheira-me que há aqui algo por explicar (muito mais coisas certamente, mas para já contentar-me-ia com isto):
Como é que a «compra de activos tóxicos» (por parte daquelas empresas) se encaixa na troca (ou seguro) de risco de alteração das taxas de juro (negativa ou desfavorável para os "nossos" gestores das nossas empresas públicas)?...
O que é que uma «coisa» tem a ver com «outra»?...
Os senhores que se apressam a dizer – mas não a explicar – que os contratos «swap» (uma troca de risco "pelo seguro"...) são uma coisa que até pode ser muito útil na gestão dos negócios correntes de qualquer empresa, deviam também esclarecer os seus leitores sobre isso.
Tanto quanto eu saiba, as alterações ou oscilações nas taxas de juro (indexadas à LIBOR) nunca têm sido de uma qualquer ordem de grandeza que justifique perdas de dezenas de milhões de euros a partir dessas variações. Ou então a estória está MUITO mal contada.

5 comentários:

  1. Os mídia abordam esta questão com muita delicadeza, sabem que os banksters envolvidos nesta tramóia são muito sensíveis, podem-se melindrar e possuem armas de grande alcance. E o saque continua!

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  2. Caro Guilherme

    Espero que esteja a comentar no sítio certo e que você leia.Dou-lhe todo o meu apoio para que consiga reunir dados e informações que nos permitam perceber o que se passou.

    Por ordem de palpites:

    (a)Gostava de saber quem originou esta "moda". Porque estou convencido de que se tratou de uma "moda".Entre ignorantes com poder qualquer acção que, como você afirma, permita acolher todos no mesmo barco, é benvinda. Em caso de "bronca" ficam todos no mesmo grau de "ignorãncia" desresponsabilizadora.
    Mas seguramente que houve um "chico-esperto" que por boas ou más razões- estou mais inclinado para as más-lançou a ideia. Seria interessante apertar a malha e perceber.
    (b)Ainda não percebi também os termos genéricos dos contratos. Cheira-me a "conto do vigário", bem feito. E aí seria interessante saber quem, na banca internacional, foi o inventor do esquema. Porque alguém inventou isto! E não foi seguramente em Portugal.Já deve haver literatura e textos analíticos sobre esta natéria, lá por fora.

    Abraço e continuação...

    Silva Alves
    silva.alves.1942@gmail.com




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  3. A ideia dos contratos SWAP apareceu pela primeira vez com um contrato entre a IBM e o Banco Mundial – por sugestão de um outro banco, mais ou menos em 1981. Lembro-me vagamente de uma referência a isso já em Portugal.
    O Banco Mundial tinha necessidade de se financiar – obter empréstimos – para poder financiar mais projectos no «Terceiro Mundo».
    Nessa altura os juros de empréstimos em Francos Suiços eram mais baixos do que em dólares. O aumento das taxas de juro nos EUA esteve na origem das primeiras crises da dívida soberana nos países do «Terceiro Mundo».
    Mas entretanto o govcerno suíço impunha alguns limites aos montantes a serem emprestados. Coisas de «prudência» bancária...
    Nessa altura a IBM tinha elevados montantes de dívida a pagar em francos suíços e em marcos alemães. Por sugestão de um banco comercial – que serviu de mediador – o Banco Mundial trocou de posição com a IBM.
    O Banco Mundial assumia o compromisso de pagar os juros da dívida em francos suíços e marcos alemães, enquanto que a IBM assumia o compromisso de pagar os juros de dívida a contrauir em Dolares pelo Banco Mundial.
    A ideia básica dos contratos SWAP é mesmo essa: a troca de posição na colecta futura de receitas e encargos.
    A ideia é que há sempre uma variável de incerteza (a variação da taxa de juro, por exemplo...) e haverá sempre uma parte que ganha mais e outra parte que ganha menos. É como as apostas de seguros: eu aposto que (não) vou ter um acidente qualquer e para isso pago um prémio... No caso dos SWAPs os bancos mediadores «defendem-se» vendendo apostas simétricas (de sentido oposto) a apostadores diferentes.

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  4. Isto é ensinado na U. Catolica como PFC e dirige-se a uma data de gente menos gestores públicos: http://www.catolicabs.porto.ucp.pt/cursos/formacao-avancada/produtos-financeiros-complexos
    Os 'espertos' que os governos colocam nas empresas públicas tiram 20 na cadeira, ficam convencidos que são bons nisso e depois são enrolados pelos verdadeiros experts da materia que esses sim ganham sempre com o negocio, desde logo a comissão à cabeça, e têm um nome em inglês muito tranquilizador como JP Morgan, Merril Lynch, Banco 'X', etc.
    Tudo bem, podiam treinar com o dinheiro dos papás, só que neste caso é dinheiro público e o Coelho na campanha eleitoral dizia que lhe punha um processo em cima. Eu gostava era que os pusessem a ganhar o ordenado mínimo e o resto do patrimonio fosse para atenuar o buraco, mas se calhar isso não é legal, como se prova com a vida de accionista do Oliveira e Costa...

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  5. Eu posso-me enganar nos trocos do café e do jornal mas por muito que me queiram fazer crer não acredito em ingenuidade ou incompetência quando entram em jogo tantos milhões. Se a engrenagem fosse de confiança deviam analisar as contas dessa gentalha. Os casinos nunca perdem e os que jogam com o nosso dinheiro também não.

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