A
propósito do papel funcional da dívida.
Em
primeiro lugar, sem a existência da ideia e da práctica da dívida
não haveria processo de acumulação económica nem tinha havido o
processo de evolução social e económica historicamente verificado.
Portanto, à primeira vista «a dívida é uma coisa boa»...
Só
que o modo de pensar dialécticamente já nos devia ter ensinado que
as coisas não sempre «boas», nem são sempre «más»...
Tudo
depende do grau da evolução histórica, da fase dessa mesma
evolução, assim como do próprio grau ou «densidade» específica
da dívida (se é de mais ou se é de menos...).
Se
a dívida é de mais passa a ter outras características
funcionais. Deixa de ser benéfica para o funcionamento minimamente
equilibrado do sistema (mesmo quando parece ser uma «bóia de
salvação») para passar a ser contraproducente. Como se está a
ver, ao travar quaisquer hipóteses de recuperação da economia.
Qualquer
estudante de engenharia (ou de sociologia), que tivesse feito uma
cadeira de «teoria geral de sistemas» podia, há muito tempo, ter
explicado isto aos senhores da «toika» (ou da «quadrilha» para
utilizar a feliz expressão de Pacheco Pereira).
A
actual dívida soberana, pela sua dimensão e especificidades (os
tipos de credores e o destino ou aplicação que é dada aos
«reembolsos» que vão sen efectuados – a compra de mais «títulos
de dívida» ou «obrigações do tesouro») tornou-se simplesmente
absurda, aberrante, impagável e contraproducente. O instrumento de
crédito/dívida deixou de ser funcionalmente útil para passar a ser
um garrote que impede a economia de simplesmete redspirar,
quanto mais recuperar e crescer.
É
por isso que cada vez mais vai havendo notícia de um número
crescente de economistas (os não convencionais...) que vão chamando
a atenção para a necessidade de anular a dívida. Em parte, de modo
selectivo, ou mesmo na sua totalidade.
Apenas
a título de exemplo (e para quem entenda bem o Inglês) remeto aqui
para uma entrevista no bem conhecido programa «HardTalk» da
mais que insuspeita BBC, realizada em 2011, com o economista
australiano Steve Keen.
Já
o antropólogo David Graeber, por exemplo, assinala a recorrência
histórica ao longo de séculos daquilo a que, a propósito do
movimento internacional por ocasião do Ano 2000, se convencionou
chamar (de novo...) «Ano do Jubileu», querendo com isso
significar o ano da anulação das dívidas, tal como já vinha
referido na Biblia e era também praticado nas antigas civilizações
do Oriente e do Médio Oriente.
Para
muito boa gente (e até gente bem colocada para saber do que fala) a
melhor saída para este imbroglio (eventualmente até a única
saída...) acabará por ser:
- A anulação da dívida (ou grande parte
dela),
- A nacionalização da banca (e falência «controlada»
dos bancos insolventes).
e depois,
- Recomeçar de
novo.
No entanto, isto é o que recomendam esses alguns economistas heterodoxos e não convencionais,
esquedendo no entanto que a História (contrariamente ao que se possa
pensar) não se repete e que não vai ser possível «recomeçar de
novo» sem profundas alterações nas «regras do jogo».
Há
quem lhe chame Revolução.
Outros preferem talvez «evolução
acelerada» ou apenas «reformas MUITO profundas»...
Seja
como for, «isto assim não pode ficar».
Vai ser preciso cortar cerce o garrote que impede as economias de respirar...
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