sexta-feira, 19 de abril de 2013

A canção e o cantor...

Ou «ter razão antes de tempo»...

A propósito da crise em Chipre muito se escreveu sobre as malvadezes (que de facto são mais do que muitas...) dos actuais dirigentes da União Europeia e do governo da Alemanha em particular.
Estando a «cantar desafinado» ou «em descompasso» dir-se-ia no entanto que, se calhar, «algo estava a mudar». Seria apenas mais uma leitura possível, mas foi a que então me ocorreu.
A «solução» adoptada para Chipre parecia indiciar que, dos resgates tradicionais (os chamados «bail-outs») em que os encargos com vigarices e aventuras especulativas dos bancos acabavam por recair sobre os contribuintes (veja-se o caso BPN e quem está a pagar essa vigarice), se estava a evoluir para resgates a cargo dos depositantes (e outros credores) dos bancos em insolvência (os chamados «bail-ins»).
O periódico «Le Monde Diplomatique» (por exemplo) pela pena de Serge Halimi condenava (com toda a severidade politicamente correcta) as decisões da União Europeia de obrigar os depositantes (em condições determinadas) a pagar parte dos custos que resultassem da sua «imprevidência»... «Com efeito é mais liberal espoliar um reformado cipriota a pretexto de que através dele se visa um mafioso russo», escreveu Serge Halimi. Isto num contexto em que, segundo alguma doutrina, os depositantes não são totalmente inocentes quando entregam o seu dinheiro a potenciais ladrões. Por outras palavras, os depositantes têm a obrigação de se cuidarem e verem com prudência quanto baste «a quem é que confiam o seu dinheiro». Pense-se a esse respeito no conceito de «risco moral»... Para além de não ser referido o facto de que algumas dezenas de milhares de «reformados cipriotas» são de facto reformados britânicos que residem em Chipre  para não pagarem impostos no Reino Unido. 
No caso da opinião portuguesa mais influente, uma personalidade como Manuel Alegre verberou também a atitude ditatorial (digo eu...) da Alemanha, ao impor as condições que foram impostas para «ajudar financeiramente Chipre». De resto julgo que não exagero se disser que houve em Portugal (e no resto da Europa) um coro de protestos contra as imposições do Eurogrupo e o seu presidente, o sr. Jeroen Dijsselbloem, foi alvo de críticas generalizadas. Em particular quando disse que o esquema adoptado para Chipre poderia vir a ser replicado para outros países da Eurozona. Por seu lado, o sr. George Soros, numa palestra recente e que tem sido referida na imprensa, também achou que aquilo tinha sido um tanto ou quanto abusivo: «nesta conjuntura», «a Alemanha tinha ido longe de mais».

E no entanto...
O relatório mensal «GEAP - Global Europe Anticipation Bulletin», Nº 74 (Abril de 2013) do «think tank» «Laboratoire Européen d'Anticipation Politique (LEAP)», vem a este respeito alertar para a possibilidade de «estar declarada a guerra entre o mundo económico-polítco e os interesses bancário-financeiros» («The war has been declared between the economicpolitical world and the financial-banking interests»), falando também de «guerra política contra o terrorismo financeiro».

Será mesmo?...
Será que as «tecno-estruturas» estatais de vários países se começam a cansar (a pressão social, os colegas e amigos, as redes sociais à moda antiga...) e chegaram à conclusão de que «enough is enough» (em verbáculo lusitano, «basta!...») e que chegou a altura de pôr alguma ordem na res pública?...
Será que alguns membros mais influentes e mais esclarecidos dessas «tecnoestruturas» estatais se dão conta de que a História está em devir permanente e que entre o caos e a barbárie a escolha racional só pode vir a redundar num futuro Socialismo?...
Nesse contexto, confesso, prefiro prestar mais atenção à «canção» do que ao(s) «cantor(es)».

O que é o GEAP?...
Um boletim mensal do «Laboratoire européen d'Anticipation Politique (LEAP)» distribu'ido em todo o mundo pela fundação holandesa GEFIRA.
http://www.leap2020.eu/Everything-you-wanted-to-know-about-GEAB_r28.html

2 comentários:

  1. Soros só canta numa "nota" e é natural; Alegre afinou sempre pelo diapasão do sistema depois do gamanço de Argel.

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  2. Estimado Cid Simões... Se me é permitida a ironia, acho que o sr. Soros canta mas é a «muitas notas»...
    Aliás ele só «canta» é a trocar «notas»... eh eh eh

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