terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sobre os porquês «desta» crise

Aqui, ao correr desta mensagem, vou tentar responder a uma questão que muito correctamente me foi colocada por pessoa amiga, a propósito do meu texto «DINÂMICA (recente) DO CAPITALISMO»...
A principal questão colocada seria então a de que «não deveria ter já rebentado esta crise antes? Porquê só agora? Quais as principais razões de contexto que levaram a isto?»
Aquilo que eu procurei resumir naquele meu texto sobre a dinâmica do capitalismo(sob a forma de um esqueleto analítico) é que esta crise estava larvar (submergida, se assim quiserem...) desde há uns 20 (ou mesmo 30...) anos.
A taxa de lucro real - aquela que se exprime em «valores» (não apenas em preços...) - começou a estagnar em meados dos anos Setenta. Lembram-se dos «choques do petróleo» ???
Foi justamente a partir do princípio dos anos Oitenta (Tatcher e Regan...) que começou a espiral do crédito fácil (mas caro...) e da evasão fiscal (a maioria dos paraísos ou refúgios fiscais foi criada a partir dessa altura). A desregulação bancária - de que a criação do «euromarket» (mercado «europeu» de dólares) foi o principal instrumento - vem também desses tempos do contra-ataque neoliberal e anti-keynesiano. Hoje, cerca de 90% dos empréstimos, financiamentos e transacções mundiais são processados através daqule «euromarket».
Ou seja, a cosmética financeira permitiu - durante uns trinta anos - «disfarçar» a crise. Até que já não havia mais como «disfarçar». E é nisso que estamos hoje.
De resto a «ganância» dos banqueiros e a imprevidência ou «falta de responsabilidade» dos gestores dos fundos de investimento são apenas epifenómenos e efeitos da lógica intrínseca do sistema: a procura do lucro e sua maximização.
Uma nota final (a pensar em engenheiros...): sendo a economia um sistema complexo, os mecanismos de transmissão funcionam de modo assíncrono e com diversas temporalidades... Por exemplo, é muito mais fácil «fechar uma loja de esquina» do que «interromper um investimento mineiro». E, no caso dese tipo de investimentos, há ainda a considerar todas as implicações estruturais a montante e a jusante... Mas, entretanto, a produção de valor acrescido e a evolução da taxa de lucro sistémica não pára de continuar a evoluir, a evoluir, a evoluir... Até se atingir aquilo a que os físicos chamam de «transição de fase»...

2 comentários:

  1. Meu Caro,
    obrigado por este (e outros) textos.
    O capitalismo vive em crise, em contradições que supera dialecticamente, i.é., a sintese é a nova tese que provoca a antítese e a busca desesperada da síntese que será a nova tese. Podia escolher outra formulação, mas saiu-me esta, coincidente com a palavra larvar que muito utilizo, e muito me agradou ler no seu texto, como poderia ser subterrânea, intrínseca... sei lá.
    Este comentário queria prolongar-se... mas deixaria de ser comentário, a saudação que deixo com todo o gosto.

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  2. @Sérgio Ribeiro,
    De facto há muitas maneiras ou modos de exprimir uma mesma ideia ou conceito... Cada um acaba por utilizar aquele modo que, na altura e sabe-se lá porquê, é aquele que vem ao de cima.

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