Ou «ter razão antes de tempo»...
A propósito da crise em
Chipre muito se escreveu sobre as malvadezes (que de facto são mais
do que muitas...) dos actuais dirigentes da União Europeia e do governo da
Alemanha em particular.
Estando a «cantar
desafinado» ou «em descompasso» dir-se-ia no entanto que, se
calhar, «algo estava a mudar». Seria apenas mais uma leitura
possível, mas foi a que então me ocorreu.
A «solução» adoptada
para Chipre parecia indiciar que, dos resgates tradicionais (os
chamados «bail-outs») em que os encargos com vigarices e
aventuras especulativas dos bancos acabavam por recair sobre os
contribuintes (veja-se o caso BPN e quem está a pagar essa
vigarice), se estava a evoluir para resgates a cargo dos depositantes
(e outros credores) dos bancos em insolvência (os chamados
«bail-ins»).
O periódico «Le
Monde Diplomatique» (por exemplo) pela pena de Serge Halimi
condenava (com toda a severidade politicamente correcta) as decisões
da União Europeia de obrigar os depositantes (em condições
determinadas) a pagar parte dos custos que resultassem da sua
«imprevidência»... «Com efeito é mais liberal espoliar um
reformado cipriota a pretexto de que através dele se visa um mafioso
russo», escreveu Serge Halimi. Isto num contexto em que, segundo
alguma doutrina, os depositantes não são totalmente inocentes
quando entregam o seu dinheiro a potenciais ladrões. Por outras palavras, os depositantes têm a obrigação de se cuidarem e verem com prudência quanto baste «a quem é que confiam o seu dinheiro». Pense-se a esse respeito
no conceito de «risco moral»... Para além de não ser
referido o facto de que algumas dezenas de milhares de «reformados
cipriotas» são de facto reformados britânicos que residem em
Chipre para não pagarem impostos no Reino Unido.
No caso da opinião
portuguesa mais influente, uma personalidade como Manuel Alegre
verberou também a atitude ditatorial (digo eu...) da Alemanha, ao
impor as condições que foram impostas para «ajudar financeiramente
Chipre». De resto julgo que não exagero se disser que houve em
Portugal (e no resto da Europa) um coro de protestos contra as
imposições do Eurogrupo e o seu presidente, o sr. Jeroen Dijsselbloem, foi alvo de
críticas generalizadas. Em particular quando disse que o esquema
adoptado para Chipre poderia vir a ser replicado para outros países
da Eurozona. Por seu lado, o sr. George Soros, numa palestra recente
e que tem sido referida na imprensa, também achou que aquilo tinha
sido um tanto ou quanto abusivo: «nesta conjuntura»,
«a Alemanha tinha ido longe de mais».
E no entanto...
O relatório mensal «GEAP
- Global Europe Anticipation Bulletin», Nº 74 (Abril
de 2013) do «think
tank» «Laboratoire Européen d'Anticipation
Politique (LEAP)», vem
a este respeito alertar para a possibilidade de «estar
declarada a guerra entre o mundo económico-polítco e os interesses
bancário-financeiros»
(«The war has been
declared between the economicpolitical world and the
financial-banking interests»),
falando
também de «guerra política contra o terrorismo
financeiro».
Será
mesmo?...
Será
que as «tecno-estruturas» estatais de vários países se começam a
cansar (a pressão social, os colegas e amigos, as redes sociais à
moda antiga...) e chegaram à conclusão de que «enough is
enough» (em verbáculo lusitano, «basta!...») e que chegou a
altura de pôr alguma ordem na res pública?...
Será que alguns membros mais influentes e mais esclarecidos dessas
«tecnoestruturas» estatais se dão conta de que a História está
em devir permanente e que entre o caos e a barbárie a escolha
racional só pode vir a redundar num futuro Socialismo?...
Nesse contexto, confesso, prefiro prestar mais atenção à «canção»
do que ao(s) «cantor(es)».
O
que é o GEAP?...
Um
boletim mensal do «Laboratoire européen
d'Anticipation Politique (LEAP)» distribu'ido em todo o
mundo pela fundação holandesa GEFIRA.
http://www.leap2020.eu/Everything-you-wanted-to-know-about-GEAB_r28.html
Soros só canta numa "nota" e é natural; Alegre afinou sempre pelo diapasão do sistema depois do gamanço de Argel.
ResponderEliminarEstimado Cid Simões... Se me é permitida a ironia, acho que o sr. Soros canta mas é a «muitas notas»...
ResponderEliminarAliás ele só «canta» é a trocar «notas»... eh eh eh