Mais algumas rudimentares considerações de um não-economista...
Uma
das notícias do dia (23 de Abril de 2013) é a de que a França, a
Espanha e Portugal «vão ter mais tempo para reduzir o défice».
Traduzindo
em efeitos de curto e médio prazo - pelo andar desta carruagem –
isto quer também dizer que estes países estão autorizados a
aumentar as respectivas dívidas públicas.
Ou
seja, meteram-nos (prometeram futuros luminosos de rendimentos
crescentes, aliciaram-nos, empurraram-nos) para um buraco de areias
movediças e quanto mais nos mexermos ao som das cantigas que eles
cantarem, mais nos vamos enterrar.
Entretanto
vão agora dizendo que é preciso promover o crescimento e que faz
falta «abrandar a austeridade» (ou algo assim...) .
Pois
todos estaremos de acordo que é preciso «promover o crescimento»,
embora haja quem questione o princípio do crescimento em si mesmo.
Quem pense que o que faz mesmo falta é de mudar de paradigma e, em
vez de «crescimento», optar antes por «desenvolvimento».
Para
alguns mais ignorantes será a mesma coisa. Mas não é!
Dizem-nos
alguns «analistas de aviário» que proliferam nas TVs e outros
meios de comunicação social, que é preciso promover o consumo,
pois que grande parte do PIB (aqui e em muitos outros países) é
dependente do consumo das famílias. Por isso também, no esquema
deles, era bom que os países que pregam a austeridade (normalmente os mais
ricos...) promovessem o crescimento do consumo das famílias desses países mais ricos e que importassem mais de outros países, dentro e fora da
eurolândia.
Até
certo ponto isto até é capaz de ser verdade, mas ao estilo de «com
a verdade nos enganam».
Só
que a economia é uma coisa tramada de tão complexa...
Para
aumentarem o consumo das famílias sem aumentarem os seus rendimentos
reais – em contado – só se for por facilitação de recurso ao
crédito ao dito consumo. E lá vem de novo o arranque de mais uma
outra «bolha de dívida privada» condenada a estoirar daqui a mais
uns anos.
Mas
se as empresas aumentarem os rendimentos reais das famílias (ou
seja, aumentando os salários) lá vem a incontronável «perda de
competitividade» (dizem eles, claro... a coisa, também aí não é
nada linear).
Ou então – é ainda uma outra alternativa - se forem os
Estados a reduzirem os impostos dos rendimentos do trabalho para
ficar mais dinheiro para o consumo das famílias, lá torna a crescer
o défice público, nosso e deles (o dos países ricos). Ou seja, quando se chega ao «limite», alguém tem que ceder um bocadinho para que outro alguém possa receber algo mais do que aquilo que já recebia.
Uma
embrulhada...
Claro
que se podiam fazer outras coisas como «ir buscar o dinheiro onde
ele está».
Por
exemplo, no caso Português, deixar de pagar as rendas de monopólio a umas coisas a que
chamam «Parcerias Público Privadas». Ou aos monopólios da energia
e telecomunicações.Embora ainda haja por aí uns senhores que acham que têm sido «os privados» quem tem estado a subsidiar o Estado.
Ou
ainda adoptar um novo paradigma fiscal que focasse a cobrança de
impostos empresariais não tanto sobre os lucros mas sim sobre a
actividade. Era muito capaz de ser uma bela machadada no sistema mundial
«offshore» (os vulgarmente chamados «paraísos
fiscais»)...
Uma
outra coisa que podiam fazer era reduzir os tempos de trabalho.
Sim,
sim.. Reduzir os tempos de trabalho. Distribuir as tarefas que há
para executar pelo maior número possivel de pessoas. A começar
pelos jovens à procura de primeiro emprego.
Mas, por favor, não falem disto - da redução dos tempos de trabalho - a nenhum economista convencional. Os economistas convencionais respondem logo que este vosso sociólogo do trabalho (de vez em quando não deve ficar mal puxar por uns galões «académicos») certamente nunca ouviu falar da «lump of labour fallacy» ou (em vernáculo lusitano) «falácia da quantidade fixa de trabalho».
Ou fazemos um apelo a Maltus ou destruímos toda a tecnologia conseguida nestes últimos cinquenta anos. Dêem as voltas que derem os tempos de trabalho serão reduzidos, não há alternativa.
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