Vejamos agora – muito sucintamente - o papel funcional da dívida.
Em primeiro lugar, sem a existência da ideia e da práctica da dívida não haveria processo de acumulação económica nem tinha havido o processo de evolução social e económica historicamente verificado. Portanto, à primeira vista «a dívida é uma coisa boa»...
Só que o modo de pensar dialécticamente já nos devia ter ensinado que as coisas não sempre «boas», nem são sempre «más»...
Tudo depende do grau da evolução histórica, da fase dessa mesma evolução, assim como do próprio grau ou «densidade» específica da dívida (se é de mais ou se é de menos...).
Se a dívida é de mais passa a ter outras características funcionais. Deixa de ser benéfica para o funcionamento minimamente equilibrado do sistema (mesmo quando parece ser uma «bóia de salvação») para passar a ser contraproducente. Como se está a ver, ao travar quaisquer hipóteses de recuperação da economia.
Qualquer estudante de engenharia (ou de sociologia), que tivesse feito uma cadeira de «teoria geral de sistemas» podia, há muito tempo, ter explicado isto aos senhores da «toika» (ou da «quadrilha» para utilizar a feliz expressão de Pacheco Pereira).
A actual dívida soberana, pela sua dimensão e especificidades (os tipos de credores e o destino ou aplicação que é dada aos «reembolsos» que vão sen efectuados – a compra de mais «títulos de dívida» ou «obrigações do tesouro») tornou-se simplesmente absurda, aberrante, impagável e contraproducente. O instrumento de crédito/dívida deixou de ser funcionalmente útil para passar a ser um garrote que impede a economia de simplesmete redspirar, quanto mais recuperar e crescer.
É por isso que cada vez mais vai havendo notícia de um número crescente de economistas (os não convencionais...) que vão chamando a atenção para a necessidade de anular a dívida. Em parte, de modo selectivo, ou mesmo na sua totalidade.
Apenas a título de exemplo (e para quem entenda bem o Inglês) remeto aqui para uma entrevista no bem conhecido programa «HardTalk» da BBC, realizada em 2011, com o economista australiano Steve Keen.
http://www.youtube.com/watch?v=rGkmgnprrIU
Já o antropólogo David Graeber, por exemplo, assinala a recorrência histórica ao longo de séculos daquilo a que, a propósito do movimento internacional por ocasião do Ano 2000, se convencionou chamar (de novo...) «Ano do Jubileu», querendo com isso significar o ano da anulação das dívidas, tal como já vinha referido na Biblia e era também praticado nas antigas civilizações do Oriente e do Médio Oriente.
http://www.youtube.com/watch?v=rGkmgnprrIU
Já o antropólogo David Graeber, por exemplo, assinala a recorrência histórica ao longo de séculos daquilo a que, a propósito do movimento internacional por ocasião do Ano 2000, se convencionou chamar (de novo...) «Ano do Jubileu», querendo com isso significar o ano da anulação das dívidas, tal como já vinha referido na Biblia e era também praticado nas antigas civilizações do Oriente e do Médio Oriente.
Para muito boa gente (e até gente bem colocada para saber do que fala) a melhor saída para este imbroglio (eventualmente até a única saída...) acabará por ser:
- A anulação da dívida (ou grande parte dela),
- A nacionalização da banca (com a falência «controlada» de bancos de facto insolventes).
- E depois, recomeçar de novo.
Dizem eles, esses alguns economistas heterodoxos e não convencionais, esquedendo no entanto que a História (contrariamente ao que se possa pensar) não se repete e que não vai ser possível «recomeça de novo» sem profundas alterações nas «regras do jogo».
Há quem lhe chame Revolução.
Outros preferem talvez «evolução acelerada» ou apenas «reformas MUITO profundas»...
Seja como for, «isto assim não pode ficar».
É mesmo preciso cortar cerce o garrote que impede as economias de respirar...
Caro Guilherme:
ResponderEliminarEsta é outra questão que precisamos ir esclarecendo porque está -no meu modo de ver as coisas- na origem dos nossos males.
Quando se trocavam batatas por carapaus, os valores em troca, embora psicológicos, não estavam formalmente quantificados. Era apenas um confronto de possivelmente - quantidade de trabalho - associado a cada produto.
Quando se começou formalmente a quantificar esses valores em presença, e a criar moeda, facilitou-se tremendamente o comércio (e ainda bem!)mas não sei onde iremos parar.
Porque quem tenha hoje a capacidade de emitir dinheiro, sejam notas, moedas, empréstimos, etc
tem de facto muito poder.
Se esse poder estiver controlado pelos cidadãos, se estiver confiado a entidades que os cidadãos possam supervisiuonar, tudo bem.
Mas quando começa a poder ser criado nos computadores, a grande velocidade, não sei onde vamos parar!
E volto ao meu "paradigma". Gostava de parar a espaços de tempo regulares e fotografar os bens palpáveis na posse de cada cidadão e fazer uma infografia.
A comparação das infografias havia de me mostrar a verdadeira natureza da evolução da acumulação física. Porque, penso, essa é a determinante. O dinheiro são apenas ordens de compra do "monopólio". A fortuna são os "terrenos" e os "prédios", porque geram mais dinheiro e portanto mais ordens de compra.
Mas disto percebe você. Eu apenas digo que precisamos perceber como isto funciona porque por aí vamos ter, como nos policiais, ao autor do crime!
Abraço
F.Silva alves
silva.alves.1942@gmail.com