quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pluralismo no Ensino da Ciência Económica


Começo por sublinhar que todas estas reflexões são feitas a partir de uma simples posição de cidadania... Não tenho pretensões a «botar sentença» sobre a matéria; apenas alertar para o problema, dada a importância que tudo isto tem para as nossas vidas e dos nossos filhos e netos. 
Temos então que, ao longo dos últimos anos, em diversos países, se tem vindo a verificar como que um movimento de rebeldia - por parte de alunos e mesmo alguns professores - face ao ensino monolítico do chamado «paradigma neoclássico», o qual, na versão ou perspectiva de política económica, assume a «máscara» mais conhecida por «neoliberalismo».
Se bem me lembro a coisa começou em França e espalhou-se depois para o Reino Unido e outros países de língua inglesa, dando origem a um movimento com potencialidades muito interessantes e que dá pelo nome de «Post Autistic Economic» (ou «Teoria Económica Pós Autista»).
Ver aqui:

Em fins de 2012 também na Alemanha da sra. Merkel surgiu um primeiro sinal (parece que com bastante força) de rebelião contra a ortodoxia neoclássica e neoliberal que também ali se estabeleceu.
Basicamente, ao que parece, a coisa começou com uma carta aberta dirigida ao presidente da «Ordem dos Economistas» da Alemanha. De passagem será interessante assinalar que a instituição que entre nós se designa por «Ordem dos Economistas», na Alemanha se designa - em tradução literal - «Associação para a Política Social»
Trata-se certamente de uma herança simbólica dos tempos em que predominava na Alemanha, no ensino da Teoria Económica, a abordagem da Escola Histórica.
Ver aqui:

Já em 2011 tive ocasião de publicar na revista Seara Nova um pequeno artigo defendendo a necessidade de um longo e persistente combate ideológico para a diversificação do ensino da Ciência Económica.
Aquilo que acontece actualmente é o ensino de uma «ideologia matematicamente pura» - na feliz expressão do Prof. Alan Freeman da Universidade de Greenwich - complementada pelo ensino de pragmáticas técnicas de contabilidade e finanças, muita matemática (se calhar ao ponto de os alunos se enamorarem desse instrumento de análise em vez do objecto de estudo - a «Economia realmente existente») e alguma dose de história do pensamento económico. Este simples facto de quaisquer abordagens alternativas (designadamente a abordagem marxista ou a abordagem institucionalista) estarem normalmente confinadas a uma cadeira de «história do pensamento económico» é já por si bastante significativo: é como se a «coisa» estivesse morta, tenha deixado de ter interesse operacional. 
Um outro aspecto particularmente significativo é a não discussão exaustiva de um tema tão fundamental (e fundacional da ciência económica) como é o caso do(s) conceito(s) de valor.
Os cientistas sociais mais jovens que peguem nisto e tratem de fazer a necessária revolução no estudo da «Economia realmente existente»...

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