Quando
Portugal possuia ainda um grau suficiente de soberania que lhe
permitia ter uma moeda própria e portanto o privilégio de manipular
(quanto bastasse...) a massa monetária em circulação no território
nacional, o remédio tradicional (e aparentemente mais fácil no
curtto prazo) para curar desequilibrios na balança de pagamentos,
era o da desvalorização cambial. Em termos simples tornavam-se as
exportações mais baratas (e portanto seria mais fácil «exportar
mais»...) e tornavam-se as importações mais caras (e portanto
seria mais natural que se «importasse menos»...).
Esse
recurso à desvalorização cambial (pensava eu então) parecia-me
ser uma «fuga para a frente» em que se aumentava a competitividade
por via do embaratecimento dos preços de venda ao exterior. Ou seja, era um encorajamento à preguiça das nossas burguesas elites.
Na
minha «santa ingenuidade» pensava eu então que a única forma
de as nossas elites «aprenderem» a investir a sério na promoção
tecnológica da nossa força-de-trabalho era retirando-lhes a
facilidade de estarem sempre a desvalorizar a moeda nacional de cada
vez que se tornasse evidente a necessidade de «exportar mais». Na
minha «santa ingenuidade» pensava eu então que uma vez
«presos» a uma moeda única, comum a um espaço económico alargado
e competitivo por outras razões (ciência, tecnologia, mão-de-obra
qualificada...), as nossas elites seriam forçadas (ou sentir-se-iam
obrigadas) a enveredar por outros caminhos que não o da
desvalorização. Pura ilusão...
Os
primeiros tempos caracterizaram-se por um esbanjar de recursos
recursos financeiros em troca da venda ao desbarato (destruição...)
das actividades industriais que possuiamos. Logo a seguir veio a
ideia peregrina, e que foi até objecto de alguma controvérsia, de
discutir se, no contexto da Eurolândia, Portugal estava mais
vocacionado para ser a Florida ou se a Califórnia da Europa. Se bem
me lembro, a coisa passava-se mais ou menos assim: se fossemos a
Florida da Europa, então isto aqui passava a ser também uma grande
estância de férias
e/ou de residência definitiva para os reformados mais ou menos ricos
da Europa Central e do Norte.
E vá de construir muitas vivendas para mais
tarde vender ou alugar...
Se
fossemos a Califórnia da Europa, então o mais natural era que
muitas empresas de grande dimensão estabelecessem em Portugal
centros de investigação e desenvolvimento e que para aqui viessem
trabalhar, com os atractivos do clima ameno e de uma melhor qualidade
de vida, alguns milhares de profissionais e cientistas altamente
qualificados.
Talvez (por osmose?...) alguns dos conhecimentos técnicos desses «profissionais e cientistas altamente qualificados» passassem também para os seus colegas portugueses (trabalhores e quadros). Talvez... Meros sonhos e ilusões que até foram sendo alimentados com alguns exemplos isolados desse tipo de fenómenos.
Talvez (por osmose?...) alguns dos conhecimentos técnicos desses «profissionais e cientistas altamente qualificados» passassem também para os seus colegas portugueses (trabalhores e quadros). Talvez... Meros sonhos e ilusões que até foram sendo alimentados com alguns exemplos isolados desse tipo de fenómenos.
O
problema é que a crise que se abateu sobre todos nós, é uma crise
de dimensão global e com sérias repercussões também no seio da
União Europeia. Os reformados do Centro e Norte da Europa afinal não
fazem fila para se deslocarem para aqui. E as empresas de grande
dimensão parece que não se sentem assim tanto motivadas para
deslocar para Portugal alguns dos seus centros de maior qualificação
profissional. Por outro lado e no que diz respeito a «solidariedade
inter membros da União Europeia» é o que se está a ver. E nem
sequer se tratava de uma questão de «ajuda aos países de economia mais frágil»... Mesmo do ponto de vista do sistema
«deles» tratava-se antes de propiciar aos seus trabalhadores (na
Alemanha e nos outros países do «centro» e «norte») condições
materiais que os inventivassem a «gastar mais» – muito mais – em países
como Portugal ou a Grécia. Seria aquilo a que alguns certamente
chamariam de «promoção da especialização funcional geográfica» de cada país...
Como
estamos (cada vez mais) numa onda de «cada um por si e o mercado por
todos» (dizem eles, para não dizer «salve-se quem puder»...)
então, de facto, o melhor é mesmo tratar com a urgência possível
de delinear um programa de saída do Euro. E negociar essa saída com
a firmeza necessária.
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