terça-feira, 9 de abril de 2013

Eu «pecador» me confesso - ou porque razão já fui a favor do euro...

Quando Portugal possuia ainda um grau suficiente de soberania que lhe permitia ter uma moeda própria e portanto o privilégio de manipular (quanto bastasse...) a massa monetária em circulação no território nacional, o remédio tradicional (e aparentemente mais fácil no curtto prazo) para curar desequilibrios na balança de pagamentos, era o da desvalorização cambial. Em termos simples tornavam-se as exportações mais baratas (e portanto seria mais fácil «exportar mais»...) e tornavam-se as importações mais caras (e portanto seria mais natural que se «importasse menos»...).
Esse recurso à desvalorização cambial (pensava eu então) parecia-me ser uma «fuga para a frente» em que se aumentava a competitividade por via do embaratecimento dos preços de venda ao exterior. Ou seja, era um encorajamento à preguiça das nossas burguesas elites.
Na minha «santa ingenuidade» pensava eu então que a única forma de as nossas elites «aprenderem» a investir a sério na promoção tecnológica da nossa força-de-trabalho era retirando-lhes a facilidade de estarem sempre a desvalorizar a moeda nacional de cada vez que se tornasse evidente a necessidade de «exportar mais». Na minha «santa ingenuidade» pensava eu então que uma vez «presos» a uma moeda única, comum a um espaço económico alargado e competitivo por outras razões (ciência, tecnologia, mão-de-obra qualificada...), as nossas elites seriam forçadas (ou sentir-se-iam obrigadas) a enveredar por outros caminhos que não o da desvalorização. Pura ilusão...
Os primeiros tempos caracterizaram-se por um esbanjar de recursos recursos financeiros em troca da venda ao desbarato (destruição...) das actividades industriais que possuiamos. Logo a seguir veio a ideia peregrina, e que foi até objecto de alguma controvérsia, de discutir se, no contexto da Eurolândia, Portugal estava mais vocacionado para ser a Florida ou se a Califórnia da Europa. Se bem me lembro, a coisa passava-se mais ou menos assim: se fossemos a Florida da Europa, então isto aqui passava a ser também uma grande estância de férias e/ou de residência definitiva para os reformados mais ou menos ricos da Europa Central e do Norte.
E vá de construir muitas vivendas para mais tarde vender ou alugar...
Se fossemos a Califórnia da Europa, então o mais natural era que muitas empresas de grande dimensão estabelecessem em Portugal centros de investigação e desenvolvimento e que para aqui viessem trabalhar, com os atractivos do clima ameno e de uma melhor qualidade de vida, alguns milhares de profissionais e cientistas altamente qualificados.
Talvez (por osmose?...) alguns dos conhecimentos técnicos desses «profissionais e cientistas altamente qualificados» passassem também para os seus colegas portugueses (trabalhores e quadros). Talvez... Meros sonhos e ilusões que até foram sendo alimentados com alguns exemplos isolados desse tipo de fenómenos.
O problema é que a crise que se abateu sobre todos nós, é uma crise de dimensão global e com sérias repercussões também no seio da União Europeia. Os reformados do Centro e Norte da Europa afinal não fazem fila para se deslocarem para aqui. E as empresas de grande dimensão parece que não se sentem assim tanto motivadas para deslocar para Portugal alguns dos seus centros de maior qualificação profissional. Por outro lado e no que diz respeito a «solidariedade inter membros da União Europeia» é o que se está a ver. E nem sequer se tratava de uma questão de «ajuda aos países de economia mais frágil»... Mesmo do ponto de vista do sistema «deles» tratava-se antes de propiciar aos seus trabalhadores (na Alemanha e nos outros países do «centro» e «norte») condições materiais que os inventivassem a «gastar mais» – muito mais – em países como Portugal ou a Grécia. Seria aquilo a que alguns certamente chamariam de «promoção da especialização funcional geográfica» de cada país...
Como estamos (cada vez mais) numa onda de «cada um por si e o mercado por todos» (dizem eles, para não dizer «salve-se quem puder»...) então, de facto, o melhor é mesmo tratar com a urgência possível de delinear um programa de saída do Euro. E negociar essa saída com a firmeza necessária.



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