(continuação...)
Ao
longo dos milénios, desde tempos imemoriais, todos os grupos humanos
sempre tiveram a possibilidade – ou a capacidade – para produzir
mais do que o necessário para a sua própria reprodução como
espécie biológica.
Podemos
mesmo dizer que a humanidade é a única espécie biológica que tem
essa capacidade. Todas as outras espécies limitam-se a reproduzir-se
enquanto tal. De certa forma, todas trabalham. Mas só a humanidade
realiza «trabalho excedente».
No
caso das muitas espécies animais todas elas fazem «trabalho» no
sentido de que aplicam a sua força ou energia na transformação (ou
deslocação) de matéria. No caso dos herbívoros, na busa de
vegetais apropriados à sua alimentação. No caso de carnívoros, na
caça de herbívoros. Em todos os casos na procura e/ou construção
«pré-programada» de ninhos, covis ou outros refúgios.
No
caso da esécie humana, no entanto essa aplicação de trabalho (ou
energia) na transformação (ou deslocação) de matéria segue-se a
uma resolução e acaba sempre por ter objectivos ou finalidades que
ultrapassam a mera reprodução.
Ao
longo dos milénios alguns grupos humanos, no entanto, têm-se
limitado a «gosar a vida», trabalhando apenas o suficiente para se
reproduzirem enquanto grupo social, dedicando o resto do tempo
actividades conscientemente culturais de recreio e lazer. Mas a
grande maioria dos grupos cedo começou a acumular. Desde a China e
Japão, até às Américas, passando pela Índia, Indonésia, «Médio
Oriente, Egipto, Etiópia e resto de África, são hoje ainda
conhecidas enormes obras de engenharia civil que testemunham essa
capacidade de produção de excedentes. Estou não só a referir-me a
coisas como pirâmides e palácios e templos, mas também a sistemas
de irrigação e de arroteamento e demarcação de terras. O
resultado natural dessas manifestações do trabalho excedente de
muitas gerações, designa-se então por «acumulação».
Os
conceitos aqui a reter, para já, são as noções de «trabalho
necessário» (à reprodução de cada grupo social), «trabalho
excedente» (para além da mera reprodução) e «acumulação».
(continua)
É muito importante este diálogo entre os que escrevem e os que lêem. Ambos aprendem.
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