Nas
sociedades que hoje consideramos «antigas» ou «primitivas» o
processo de «acumulação» era naturalmente elaborado pelas
colectividades como um todo, cada uma sob a direcção de um «chefe»,
fosse ele um «rei», um «imperador» ou outra coisa qualquer.
Para
efeitos desta explanação, digamos que a partir de certa altura –
e de modo diferenciado em cada sociedade humana – o processo de
acumulação passou a beneficiar uns grupos em detrimento de outros.
Ou então beneficiando mais uns grupos sociais do que beneficiava
outros grupos dentro da mesma sociedade. Podemos também assumir (ou
supor) que alguns grupos sociais dentro de algumas sociedades
conseguiam impor, a outras sociedades «estrangeiras», a entrega dos
seus excedentes, no todo ou em parte. Para o efeito era preciso fazer
alguma forma de expansão territorial, normalmente acompanhada de
expansão demográfica.
Mas
isso da expansão geográfica e demográfica é aqui e para já (para esta
explanação), pouco relevante.
O
que importa aqui considerar é que a partir de determinada altura
alguns dos grupos de «agentes económicos» que se iam apropriando
dos excedentes produzidos no seio de cada sociedade como um todo,
autonomizaram-se (nesse processo de apropriação) relativamente aos
«chefes», «reis» ou «imperadores» que até aí tinham sido os
«agentes» preponderantes nas decisões de produção de excedentes
e sua apropriação (colectiva ou pessoal). Estou aqui a pensar em
canais de irrigação assim como em fábricas (manufacturas reais) e
criação conjunta de companhias magestáticas por parte de alguns
«soberanos» e grupos de mercadores.
Essa
autonomização veio a dar origem a um predomínio – hoje absoluto
– de um determinado conjunto de regras que determinam o modo como
se joga a interacção entre, por um lado, a sociedade humana com a
Natureza e, por outro lado, entre dois grandes tipos de «agentes
económicos».
Relativamente
à interacção entre a Humanidade e a Natureza pouco há a dizer
aqui, a não ser chamar a atenção para o facto de que o crescimento
ilimitado (porque também é disso que se trata) num planeta com
claros e bem determinados limites físicos é simplesmente impossível
a partir de uma determinada fase do processo de acumulação.
Se
estamos perto ou ainda longe de alcançar esses limites é algo que
aqui não interessa para efeitos desta explanação. Apenas se
presume aqui que o processo de acumulação continua através da
apropriação e transformação de parcelas da Natureza, por parte
dos diversos grupos sociais.
Por outras palavras, é ao mais profundo nível de abstracção, e tendo em linha de conta apenas a produção e distribuição de «coisas com valor» que se deve proceder a esta análise. A questão da expressão monetária desses valores (ou seja, o «dinheiro»...) não entra aqui nestas considerações.
São questões importantíssimas mas devem ser discutidas a outro nível de análise.
(para continuar...)
Essa apropriação por grupos "privilegiados" carece de explicação porque não é óbvia para mim a vantagem obtida por se ter mais. Há um artigo com que me cruzei há uns anos (More Status or More Children? Social
ResponderEliminarStatus, Fertility Reduction, and
Long-Term Fitness
James L. Boone and Karen L. Kessler
Evolution and Human Behavior 20: 257–277 (1999))
que aborda a questão de a apropriação da riqueza ser instrumental (termo meu) para a obtenção e manutenção de estatuto social, que estará ligado à capacidade de sobrevivência a longo prazo. Mas é um assunto que, à data do artigo, carecia de mais investigação e é uma das hipóteses do artigo (mas aquela que os autores acarinham mais).
Muito bem observado... Mas atenção, aqui neste contexto, eu limito-me a constatar essa apropriação. Não tive - nem tenho - a pretensão de a explicar. Posso apenas imaginar (especular...) que, à semelhança do que parece ser o caso com alguns dos nossos «primos» símios, haja no nosso código genético algumas «instruções» no sentido de cada um procurar garantir primordialmente a sua descendência pessoal em detrimento - se for necessário - da descendência de outros individuos.
EliminarSeja como for, penso que a partir do momento que há «apropriação» por uns grupos em detrimento de outros, para a dinâmica (e respexctiva lógica) de acumulação (material ou equivalente) a INTENÇÃO inicial dessa apropriação torna-se irrelevante.
Mas posso estar enganado...
Não assinei o comentário anterior - Augusto Carreira
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