Tenho
dito, escrito e repetido que a
taxa de lucro está para o sistema capitalista como a força de
gravidade está para o planeta Terra, ou que como as cenouras para os
coelhos ou o agitar do pano vermelho para os touros...
Isto parece mania, mas não é...
Também
costumo citar Kurt Lewin (famoso sociólogo norte-americano de origem
germânica e refugiado aos nazis) quando ele dizia que «não há nada
mais prático do que uma boa teoria».
Por
outro lado, todo e qualquer empresário pode confirmar que só se
justifica fazer investimentos – e
não aqui estou a falar de «aplicações financeiras» (mania que
alguns comentadores e jornalistas têm de chamar «investidores» a
pessoal que gere essas aplicações financeiras»...)
- se as perspectivas de lucro forem suficientemente atractivas.
Assim
sendo pareceria razoável que os dirigentes de um qualquer país
prestassem atenção aos sinais que venham das «profundidades»
(mais ou menos invisíveis) da economia real. Designadamente o
comportamento da taxa de lucro.
Ao
longo dos últimos 34 anos tenho dedicado parte do meu tempo a
estudar esta temática – o que me levou por uma enormidade de
leituras dos mais diversos autores e a algumas interessantes
discussões sobre a viabilidade (ou não) de demonstrar uma alegada
queda tendencial da taxa de lucro e de comprovar (ou não) a sua
razoabilidade e aplicabilidade aos dados históricos empiricamente
verificados.
Entretanto - e para que conste - o
trabalho cujos resultados apresento mais abaixo não teria sido
possível sem a preciosa (ou inestimável) colaboração de um colega
do programa doutoral em ciências da complexidade do ISCTE e da FCUL.
Por outro lado, há
umas semanas atrás solicitei a um grupo de leitores com quem esta
questão tem sido discutida, alguma opinião crítica sobre a
legibilidade do gráfico que aqui se apresenta.
Passo
a esclarecer:
Se
a taxa de lucro funciona simultâneamente como «motor» e
«indicador» da dinâmica de investimento, já o nível geral de
emprego funciona, quer como indicador da «saúde» do sistema
económico, quer como indicador da expansão e retracção, ou seja,
da dimensão do sistema como um todo.
A
respeito da queda tendencial da taxa de lucro, escrevia Keynes o
seguinte:
«Mas
pior ainda. Não só a propensão marginal para o consumo é mais
fraca numa comunidade rica, mas, devido ao facto de que a sua
acumulação de capital ser já maior, as oportunidades de mais
investimento são menos atraentes a menos que a taxa de juro desça a
um ritmo suficientemente rápido»
Qualquer
observador das coisas das finanças sabe que as taxas de juro dos
bancos centrais estão perto do zero (ou mesmo
negativas, se levarmos a inflação em linha de conta). Ou seja, há
muito tempo que a taxa de lucro deixou de funcionar como incentivo ao
investimento real.
O gráfico apresentado mais abaixo, apresenta o comportamento do sistema nas duas variáveis aqui consideradas: a taxa de lucro e o nível de emprego.
Considerei aqui uma taxa anual de refluxo (aquilo que reflui para o sistema sob a forma de investimento real) de 1,5% com impacto sobre a produtividade agregada de 2,8% e uma taxa de destruição periódica de 25% do «valor acumulado» (capital fixo e capital constante)1,
Considerei aqui uma taxa anual de refluxo (aquilo que reflui para o sistema sob a forma de investimento real) de 1,5% com impacto sobre a produtividade agregada de 2,8% e uma taxa de destruição periódica de 25% do «valor acumulado» (capital fixo e capital constante)1,
A simulação aqui reproduzida contempla 210 anos (foi
em 1803 que foi inaugurada a primeira linha de caminhos de ferro e
apresentado o primeiro barco a vapor...) de
evolução teórica (nos
circuitos electrónicos de um qualquer computador...).
Como
não disponho dos meios necessários e suficientes para isso, tenho
mesmo que deixar ao cuidado de eventuais historiadores e economistas
menos ortodoxos, a eventual tarefa de documentar e comprovar (ou não)
a aplicabilidade disto tudo à história económica dos últimos
séculos.
Era capaz de dar um bom terreno para teses de doutoramento...
Era capaz de dar um bom terreno para teses de doutoramento...
Na
espécie de simulação que qualquer pessoa se pode entreter a experimentar qualifico a destruição periódica de valor acumulado como «Factor
Potlatch».
A
razão é simples: «potlatch» era um cerimonial dos povos do
Noroeste da América do Norte em que eram destruídos e/ou consumidos
excedentes económicos em ritos de grande ostentação – uma
especie de desafio a ver quem era «mais rico». Tais cerimónias
foram proíbidas pelos governos dos Estados Unidos e do Canadá já
em princípios do século XX.
Moral da história: Se «isto» corresponder à realidade dos factos - ou seja, se a tese da queda tendencial da taxa de lucro estiver correcta ou se for possível comprová-la por observação empírica ou pelos registos históricos - então bem podem clamar por «mais empreendedorismo», por «mais financiamento à economia» e por muitos e variados «incentivos» que o «bicho» mexe»...
Quando muito vai-se arrastando.
Quando muito vai-se arrastando.
Uma outra conclusão - e já muita gente diz isso - se o gráfico acima representar minimamente a realidade económica, então os cerca de 10 milhões de empregos perdidos nos últimos cinco anos só na Europa (diz a OIT...) só voltam a ser recuperados daqui a mais uns vinte anos...
Clique aqui para ir ao sítio da experimentação.
1Estou
aqui consciente da sobreposição destas duas categorias
analíticas...
Eu vou lendo, atentamente, mas preciso um dia destes de explicações complementares...não chego lá sózinho!Abraço, Silva Alves.
ResponderEliminarEstimado Silva Alves,
EliminarVou tentar - numa nova mensagem que preparo de seguida - iniciar alguns esclarecimentos.
Até porque recebi alguns comentários por via de «email»